Uma imagem que traduz o processo de polarização política que toma conta do Brasil: a barreira de aço de um quilômetro de extensão, em plena Esplanada dos Ministérios, construído por presidiários do Distrito Federal. O muro que dividirá os manifestantes pró e contra o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em votação neste domingo (17), serve de metáfora para a multidão rachada que neste domingo sai às ruas por todo o País. Organizados por entidades de esquerda e direita, os atos servirão de amostra do Brasil – talvez conflagrado – que vai amanhecer na segunda-feira (18).
Em Brasília, diante do Congresso Nacional, estima-se a presença de 300 mil pessoas e 4 mil policiais militares e seus cães de guarda para evitar confrontos no que provavelmente será o ultimo dia de votação na Câmara dos Deputados. Grupos estiveram acampados na capital durante toda a semana que antecedeu a sessão e manifestantes contra o impeachment organizaram caminhadas diárias ao Congresso como forma de protesto.
Com ou sem impeachment, os manifestantes não sairão das ruas. É o que diz Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares e membro da direção nacional da Frente Brasil Popular – FBP. Junto à Frente Povo Sem Medo, as duas organizações reúnem movimentos como CUT, UNE, MST e MTST, dentre outras diversas entidades. A votação na Câmara é vista como etapa fundamental na luta contra o afastamento da presidenta, que ainda precisaria ser aprovado no Senado. “Se passar na Câmara, vai ser difícil que o Senado segure a pressão. Estamos fazendo de tudo para encerrar isso no domingo.”
Bonfim avalia que caso o Senado aprove o processo, haverá uma reação muito forte de indignação por parte da sociedade. “Não vamos reconhecer um eventual governo Temer. É um governo que já nasceria morto. Primeiro porque não teria legitimidade alguma, não tem um voto.” Além disso, a queda de Dilma significaria “retrocessos e eliminações de direitos e políticas sociais, a entrega do pré-sal”: “Os movimentos sociais vão reagir a isso”. Ainda segundo Bonfim, mesmo que o governo Dilma resista, as mobilizações continuarão para pressionar uma mudança na atual política econômica.
A Frente Brasil Popular tem concentrado suas ações em duas linhas: manifestações nas ruas para dialogar com a sociedade e pressão nas redes sociais para que os deputados federais indecisos votem contra o impeachment. “A gente tem que anular a campanha de parte da mídia que quer criar um clima de derrota para desanimar a nossa militância. Acho que os indecisos são mais inclinados a votarem contra o impeachment. Os favoráveis já estão se manifestando, já se colocaram como oposição”, diz.
Os movimentos pró-impeachment Movimento Brasil Livre e Vem pra Rua também estão mobilizados para pressionar os indecisos. Procurados pela reportagem da Brasileiros, nenhum dos dois grupos concedeu entrevista.
O release enviado pelo Vem pra Rua diz que “haverá telões a céu aberto em todas as capitais brasileiras, nos mesmos locais onde aconteceram as manifestações de 13 de março de 2016. Além das capitais, cerca de 200 cidades do interior dos Estados estão se organizando espontaneamente e convidando o povo para as ruas, para acompanhar a votação. O Vem Pra Rua não tem uma lista formatada dessas cidades”.
De acordo com comunicados publicados no Facebook, o ato pró-impeachment de São Paulo, que acontecerá na Avenida Paulista, à imagem dos atos da Frente Brasil Popular, contará com a presença de “humoristas, intelectuais, jornalistas, atores e bandas” – sem especificar quais serão. Nas semanas que antecederam a votação, a FBP organizou atos que juntaram nomes como Chico Buarque, Leonardo Boff, Eric Nepomuceno, Zé Celso, Beth Carvalho, dentre outros. Em São Paulo, o Largo da Batata foi palco de uma programação cultural em defesa da democracia durante uma semana.
Bonfim diz que a FBP não acredita que ocorrerão episódios de violência entre os manifestantes, mas tem a preocupação com o “ódio que os defensores do impeachment pregam”: “Não vamos provocar, mas também não aceitaremos provocações. Em São Paulo, requeremos da Polícia Militar total atenção, principalmente na chegada e saída das manifestações. Exceto Brasília, onde as duas manifestações são próximas, no restante do País são em locais um pouco distantes”.
Veja abaixo algumas das cidades onde haverá protestos a favor e contra o impeachment de Dilma:
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