O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou por alguns minutos o QG anti-golpe que montou em um hotel em Brasília para fazer um forte discurso pela democracia em um acampamento montado por movimentos sociais na região central do Distrito Federal na manhã deste sábado (17), véspera da votação do impeachment pela Câmara dos Deputados. Segundo Lula, o Brasil vive o mais longo período democrático de seus 516 anos, o que parece insuportável para setores da elite, que depois de todo o período monárquico, forçou a queda de João Goulart, o suicídio de Getulio Vargas e agora tentam derrubar Dilma Rousseff.
Rouco, o ex-presidente iniciou o discurso chamando a atenção para a falta de voz. “Eu tenho de voltar [para o hotel]. Ainda tem três governadores para conversar porque só temos 513 votos pra gente conquistar”, brincou. “Temos de conquistar metade desses 513 votos […] é uma guerra de sobe e desce. Parece a Bolsa de Valores: tem hora que eles estão com a gente, tem outra que não estão. Tem hora que estão com eles, tem hora que não estão mais. Tem de conversar 24 horas por dia.”
Lula agradeceu o apoio do ato, batizando de Movimentos Sociais pela Democracia. “Não é fácil vir fazer um protesto em Brasilia cozinhando aqui, em condições de higiene nem sempre adequadas. Vocês estão aqui em nome de uma palavra mágica que conquistamos chamada democracia.” Ele, então, lembrou de sua trajetória política e das três derrotas que sofreu até se eleger presidente. Tudo para mandar um recado ao peemedebista Michel Temer, vice-presidente e um dos articuladores do impeachment. “Eu fui teimando. Agora, se o seu Temer quer ser candidato, não tenta através de um golpe, que dispute a eleição. Espere chegar a 2018, o PMDB é um partido grande. Vamos para as urnas debater. Pode ter dez, 15 candidatos, mas tentar encurtar o mandato da Dilma mesmo sem que tenha cometido crime de responsabilidade?”, questionou.
O ex-presidente, então, iniciou a parte mais dura de seu discurso. Ele lembrou dos amigos que perdeu na ditadura ”muitos sindicalistas, trabalhadores, intelectuais morreram, mas nós resistimos 21 anos até a volta da democracia”. Ele frisou que este é o mais longo período de democracia já vivido pelo Brasil [31 anos], e talvez seja justamente por isso que as “elites” querem derrubá-la: “Me parece que a elite brasileira não gosta muito de democracia porque Getulio Vargas governou com mão de ferro por 15 anos. Bastou voltar e em quatro anos de governo democrático o fizeram se matar. João Goulart era presidente de fato e de direito […], fizeram tanto até ele cair”, rememorou. “Nós precisamos dizer para eles: primeiro, não vamos nos matar, nós gostamos da vida. É a coisa mais extraordinária. Segundo, não vamos sair do Brasil, não vamos nos exilar, vamos lutar para conquistar nossa democracia.”
Lula também pediu que os manifestantes não caiam na provocação de quem protestar em favor do impeachment. “Amanhã vai ter gente querendo tumulto, mas vocês vão dar o exemplo. A gente não pode aceitar nenhuma provocação amanhã. Está cheio de televisão pra dizer que esse movimento popular, social, são de baderneiros. Não, somos trabalhadores, baderneiro é quem quer derrubar a presidente no Congresso Nacional.”
Segundo o ex-presidente, a luta de quem estava naquele acampamento é pela democracia, respeito à Constituição e ao Estado de Direito. “Não podemos habituar esse País a viver de golpe em golpe.”
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