Partidos contra impeachment criticam traição de deputados na hora da votação

Tensão toma conta na Câmara em sessão do impeachment - Foto: Antonio Augusto/ Câmara dos Deputados
Tensão toma conta na Câmara em sessão do impeachment – Foto: Antonio Augusto/ Câmara dos Deputados

Traição e não cumprimento de acordos foram os pontos mais comentados por deputados do PT, PC do B e PSOL para explicar a derrota na votação do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff por 367 votos a favor, 137 contra, sete abstenções e duas ausências (dando 146 votos contrários ao impeachment).

Pelos cálculos feitos pelos articulares do governo, comandados pela própria Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a rejeição ao impeachment teria pouco mais dos 172 votos (incluindo ausências e abstenções), suficientes para barrar a iniciativa, deixando a oposição com menos votos que os 342 necessários para aprovar a medida. Segundo o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), os articuladores do governo debateram com muitos parlamentares e os teriam convencido da ilegalidade de impedir uma presidenta sem que fosse configurado crime de responsabilidade. “Muita gente admitiu que estávamos com a razão, se comprometeu a votar contra o impeachment e na hora mudou o voto”, critica o líder.

Entre esses, estava o ex-ministro José Reinaldo, do Maranhão, que na sexta-feira havia dito para Dilma, no Palácio, que votaria contra o impeachment, mas mudou o voto diante do microfone, mesma coisa feita pelos ex-ministros Alfredo Nascimento e Mauro Lopes. Já o ex-presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), mesmo considerando que muitos dos que estariam do lado do governo não seriam muito confiáveis, acha que a mudança se deveu a fatores externo ao Congresso. “Alguma coisa aconteceu na noite de sábado para domingo que mudou a posição de uns 30 parlamentares. Vamos agora tentar descobrir o que houve”, comentou.

Uma das coisas que está chamando a atenção do PT é o número de ausências, apenas duas, por motivos médicos, entre 513 deputados. Ele considera que alguma coisa fora do padrão ocorreu para que parlamentares que já haviam decidido ficar fora de Brasília acabaram aparecendo na Câmara na hora da votação. Para Marco Maia, o processo instaurado pelo Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é cheio de irregularidades. “As ilegalidades cometidas por Eduardo Cunha ao longo da tramitação e da produção das regras são tantas que chega a ser repugnante”, criticou. Ele esteve na manhã do domingo no Alvorada, reunido com Dilma e Lula, e disse que os dois “estavam na expectativa de que a Câmara tivesse responsabilidade, o que, pelo resultado, se percebe que não aconteceu. Mas o que se vê é que o Brasil está vivendo um clima de Gre-Nal, onde a emoção dita as decisões”, comentou.

A irritação com o resultado, mas sem nenhuma surpresa com as dezenas de mudanças de voto praticamente no caminho do microfone também ocorreu com deputados fora do PT. Chico Alencar (PSOL-RJ), ferrenho crítico do governo, se alinhou, junto com os demais deputados do partido, ao grupo contrário ao impeachment. Para ele, o desempenho do PMDB do Rio foi um dos fatores da derrota. “O PMDB é um partido com grande senso de oportunidade, sempre se mantendo unido em torno do poder. E, no Rio tem um cacique, Jorge Picciani, que comanda tudo com mão-de-ferro. Ele já tinha decidido o rumo que o PMDB ia tomar na votação, se alinhando ao Temer desde o começo”, ataca o experiente deputado carioca. Outra deputada do Rio, e veterana na política nacional, a comunista Jandira Feghali (PC do B) disse que vários acordos “de todos os tipos” foram usados pela oposição para fazer passar o impeachment. “Foram muitas ações contra o governo, antes mesmo da tramitação do impeachment sair da mesa do Eduardo Cunha. A verdade é que não se está conseguindo discutir o Brasil, por causa das batalhas políticas. E que esse Congresso é muito ruim”, detonou.

A constatação é de que o governo, seus líderes na Câmara e parlamentares de influência sobre os demais acabaram acreditando demais em aliados pouco confiáveis. E já existe um alvo principal como responsável direto e indireto da derrota, o ex-ministro das Cidades, Gilberto Kassab e seu partido, o PSD. “Ele ficou um ano e meio como ministro e depois como presidente de um partido aliado para vir anunciar a saída do governo dias antes da votação”, critica Afonso Florence. Ele destaca que a interação com Kassab era tão grande que muitas vezes as lideranças do PT e do governo passavam as listas dos indecisos do PSD para Kassab, deixando as negociações à seu cargo e seus assessores. Mas o PT e os partidos aliados não estão parados, lamentando a derrota e seus motivos. “Vamos para a batalha, nas ruas e no Senado, buscando derrubar o processo do impeachment, mostrando as irregularidades e ilegalidades cometidas”, garante Florence. E, na Câmara, o PT e aliados vão exigir a abertura e instalação do processo de impeachment contra Michel Temer baseado nas mesmas acusações feitas a Dilma. “Vamos ver o que acontece, se julgarão a mesma coisa de maneiras diferentes”, adverte o líder do PT.


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