Depois da aprovação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, os integrantes do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados já preparam uma série de manobras para salvar o mandato do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A ideia é dar uma espécie de anistia em virtude das articulações de Cunha que favoreceram a aprovação da admissibilidade do processo contra a presidenta.
O parlamentar fluminense é acusado de ter mentido durante uma sessão da CPI da Petrobras em relação à titularidade de contas na Suíça, descobertas durante as investigações da Operação Lava Jato. Os deputados do Conselho de Ética, entretanto, já articulam uma forma de isentar o deputado dessa imputação, passível de cassação de mandato.
A manobra está sendo patrocinada pelo PMDB de Cunha, aliado ao PP, ao PTB e ao PR, e conta com o apoio de setores do PSDB e do DEM. A ideia é utilizar, no Conselho de Ética, a argumentação da defesa de Cunha de que as contas na Suíça pertenceriam a trusts, e não ao parlamentar fluminense. Apesar dele ser apontado como beneficiário dos trusts, a defesa alega que não poderia ser punido por essa razão: era como se o presidente da Câmara tivesse o mandato cassado pelo fato de ter usado o cartão corporativo de uma empresa ou de uma pessoa jurídica.
Para um dos deputados ligados à Cunha, a ligação do deputado fluminense com trusts não é necessariamente uma mentira. E, por isso, ele não deveria ser punido. “Eu acho que cassar o mandato de Cunha por supostamente mentir é meio exagero”, disse o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
Em outra frente de defesa, já foi realizada uma troca de membros do conselho para dar maioria a Cunha. No início de abril, após pressão da direção do PP, o deputado Fausto Pinato (SP), tido como inimigo do deputado fluminense, foi tirado do Conselho de Ética. Em seu lugador o bloco parlamentar indicou a deputada Tia Eron (PRB-BA), da bancada evangélica, apontada como alinhada a Cunha.
Um terceiro plano em curso seria uma articulação direta entre Cunha e Temer, embora essa hipótese seja considerada menos viável. Nessa articulação, Cunha renunciaria à presidência da Câmara dos Deputados e, em troca, o Conselho de Ética aprovaria uma punição mais branda. Cunha resiste a essa ideia, principalmente após a aprovação do impeachment na Câmara, processo no qual o parlamentar fluminense acabou ganhando força.
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