Com Dilma animada para luta, Palácio toca bola para a frente

Foto: EBC
Dilma em seu primeiro pronunciamento após a votação da Câmara dos Deputados. Foto: EBC


A velha piada do cafezinho frio, da
água quente e dos funcionários desanimados, que indicaria um governo em fim de mandato ou enfrentando problemas, pelo menos na segunda-feira do Day After da votação do pedido de impeachment pela Câmara dos Deputados, não pode ser aplicada ao Palácio do Planalto. Para começar, em vários locais em que a reportagem de Brasileiros esteve, o cafezinho foi servido fresco e quente e a água, em taças, sempre veio gelada. E os interlocutores, destacando as dificuldades que terão que ser enfrentadas e vencidas na tramitação do impeachment no Senado, mostravam animação e disposição para a luta. Mas o sinal mais claro do espírito de passar a borracha na lamentável sessão da Câmara no domingo, e seguir em frente, tocando o governo, foi dado pela presidenta Dilma Rousseff.

Em uma agenda cheia, ela começou o dia no Planalto recebendo 20 deputados do PT e de partidos aliados, incluindo os líderes José Guimarães (PT-CE), Afonso Florence (PT-BA), os ministros da Saúde, Marcelo Castro, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, que reassumiram os cargos, e Silvio Costa (PT do B-PE), entre outros. E se reuniu com sua tropa de choque, Jaques Wagner, do gabinete pessoal, Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, e José Eduardo Cardozo, advogado-geral da União, já pensando nas estratégias para o Senado e para tocar o governo para a frente. À tarde, ela recebeu senadores da base do governo para começar a definir como será o trabalho de convencimento dos senadores na tramitação do impeachment. E para culminar teve uma reunião no Planalto com o presidente do Senado, Renan Calheiros, que lhe comunicou ter recebido, pouco antes, todo o processo do impeachment do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

E, logo depois da saída de Renan do Palácio, Dilma apareceu, diante de dezenas de jornalistas, com ar cansado, mas que, logo no começo da coletiva, se desfez, com uma Dilma mais incisiva nas falas e nas respostas aos jornalistas, fazendo até piadas e rindo em alguns momentos. A fala de Dilma refletiu sua disposição de seguir em frente na luta para derrotar o impeachment. Ela disse que se sentia injustiçada porque considera que o processo não tem base de sustentação legal. E, incisiva, afirmou que recebi 54 milhões de votos e fiquei indignada com a decisão da Câmara, que aprovou a admissibilidade sem crime de responsabilidade. Fiquei indignada com aqueles que praticaram atos ilícitos, que têm contas no exterior, e que comandaram o processo. Injustiçada por que, em 15 meses, fizeram de tudo para desestabilizar o governo na teoria do quanto pior, melhor.

Para Dilma, o resultado do processo do impeachment seria uma espécie de eleição indireta dos que não teriam votos pata tentar anular a decisão de 54 milhões de pessoas. A presidenta não poupou críticas ao vice-presidente Michel Temer, a quem não citou o nome, dizendo que “é inusitado, estranho e estarrecedor que um vice-presidente conspire abertamente contra o presidente. E a sociedade não gosta de traidores pois as pessoas sabem a dor que sentem no coração ao serem traídas. Dilma afirmou que vivemos tempos difíceis e históricos e que ela tem ânimo e coragem suficientes para enfrentar a injustiça. Não vou me abater e vou lutar como fiz em toda a minha vida, primeiro contra a ditadura aberta e declarada e agora, quando meus sonhos e direitos são torturados. […] A luta será longa e demorada, não pelo meu mandato mas pelos 54 milhões de votos, por todos os brasileiros e pela democracia, afirmou.

Enquanto Dilma falava, Jaques, Berzoini e Cardozo se reuniam com lideranças do Senado para seguir traçando as estratégicas contra o impeachment, uma rotina que passará a ser diária. Depois da coletiva, que durou 40 minutos, a presidenta confirmou que, na terça-feira de manhã, será a vez de ela enfrentar os jornalistas estrangeiros, dentro da ofensiva de ganhar os corações e mentes para seu lado. No resto do dia, mais reuniões estão agendadas sobre todos os assuntos. Afinal de contas, o governo segue em frente e, como destacou Dilma, há uma luta a vencer.


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