Dilma diz a correspondentes estrangeiros que Brasil tem um “veio golpista adormecido”

A presidenta Dilma Rousseff durante coletiva de imprensa no Planalto - Foto: Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR
A presidenta Dilma Rousseff durante coletiva de imprensa no Planalto – Foto: Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR

Em entrevista concedida aos correspondentes estrangeiros em Brasília, a presidente Dilma Rousseff disse nesta terça-feira (19) que está sendo vítima de um processo de impeachment baseado em um “veio golpista” que perpassa toda a história do Brasil: “O Brasil tem um veio, que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória dos presidentes no meu País, no regime presidencialista, a partir de Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment, sistematicamente, se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos. Eu tenho certeza de que não houve um único presidente depois da redemocratização do país que não tenha tido processos de impedimento no Congresso Nacional. Todos tiveram. Todos”.

Ela reafirmou aos jornalistas estrangeiros que não existe base legal para o impeachment: “Eu me sinto injustiçada e acho grave que tentem sempre diminuir esse fato. Esta exigência, que é a exigência da base legal para buscar o impedimento do presidente da República. Aí pergunto para vocês: por que isso não seria um golpe? É um golpe. É um golpe porque está revestido de um pecado original, que é não ter base legal para o meu impeachment”.

Ela ressaltou que está sendo vítima de uma flagrante injustiça:  “Tenho profunda consciência de que estou sendo vítima de um processo simultaneamente baseado numa flagrante injustiça, numa fraude jurídica e política que é a acusação do crime de responsabilidade sem base legal, sem crime e, ao mesmo tempo, de um golpe”.

Dilma condenou a participação do vice-presidente Michel Temer nessa conspiração: “É muito pouco usual que haja assim um vice-presidente da República. Acho que a conspiração se dá pelo fato de que a única forma de chegarem ao poder no Brasil é utilizando métodos, transformando e ocultando o fato de que esse processo de impeachment não é um processo de impeachment. É uma tentativa de eleição indireta de um grupo que, de outra forma, não teria acesso [ao Palácio do Planalto]”.

Durante a entrevista, a presidenta negou que tenha cometido irregularidades contábeis e chamou a atenção dos correspondentes para o fato de que, durante a votação na Câmara, raríssimos deputados mencionaram os argumentos mencionados no pedido de impeachment. E atribuiu a aprovação do relatório a uma vingança pessoal conduzida pelo presidente da Casa, o deputado Eduardo Cunha (PMDB: “Esquecer esse fato [a vingança de Eduardo Cunha] não só mostra uma perda grande de memória da nossa parte, porque aconteceu recentemente, mas também não deixa claro o caráter, o pecado original que tem neste processo. O presidente da Câmara só aceitou o pedido dentro da teoria que eles gostam, do ‘quanto pior, melhor’. Ou seja, quanto pior, melhor para eles”.

Dilma alertou os correspondentes para o histórico dos que votaram contra o governo: eles não poderia ser juízes de nada, mas antes deveriam “ser réus”.

Ela criticou o discurso do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos “maiores torturadores do Brasil”: “É terrível você ver no julgamento alguém votando em homenagem ao maior torturador que este país conheceu. É lamentável”.

“Lastimo que este momento no Brasil tenha dado abertura para a intolerância, o ódio e para esse tipo de fala. Acho gravíssima a aventura golpista, porque levou a uma situação que não vivíamos no Brasil, que é a situação de raiva, do ódio e da perseguição”.

A presidente afirmou ainda que a atual situação de crise econômica não pode servir de justificativa para o impeachment: se assim fosse, “não teria um único presidente nos países desenvolvidos que sobrevivesse à profunda crise econômica que se espalhou pelo mundo após o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008”.


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