Fiéis escudeiros de Jorge Ben Jor no álbum homônimo de 1969, nos sucessores Força Bruta e Negro é Lindo, e no ao vivo On Stage in Japan With Trio Mocotó, armado de seu suingue irresistível, o Trio Mocotó ajudou a impulsionar o genial compositor carioca ao grande sucesso popular dos anos 1970. Bem-sucedido em seus primeiros experimentos de fusão da bossa nova com o samba – em êxitos internacionais como Mas que Nada e Chove Chuva -, depois dessa união feliz, Benjor assumiria de vez o posto de herói da negritude brasileira.
Sempre bem acompanhado, antes de aderir a esse trio de forte síncopa formado por Nereu Gargalo (pandeiro), Fritz Escovão (cuíca), e João Parahyba (“baterista” de um inusitado e econômico set, que trazia uma timba no lugar do bumbo), Benjor foi assessorado por músicos do primeiro time do samba-jazz que infectava os inferninhos do Beco das Garrafas com doses geniais de improviso. Uma turma da pesada que incluía o Copa 5, do saxofonista J.T. Meirelles e do baterista Dom Um Romão, e músicos do calibre do pianista Luiz Carlos Vinhas, egresso do Bossa Três. A parceria com o Mocotó fez com que essa sofisticação desse lugar à força percussiva, e o violão ritmado de Benjor chega ao ápice.
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Com a popularidade de clássicos instantâneos como Bebete Vãobora, Take it Easy My Brother Charles e País Tropical, não tardou para o próprio Trio Mocotó ser merecedor de seus próprios títulos e assinar pérolas do sambalanço (nome dado ao hoje cultuado samba-rock), registradas em Muita Zorra (…São Coisas que Glorificam a Sensibilidade Atual!), o debut do trio, lançado pela Philips em 1971, e o segundo e homônimo álbum de 1973, produzido pelo maestro Rogério Duprat.
Corria o mês de agosto de 1974, quando o trio foi convidado pela Philips para uma inusitada empreitada: acompanhar o trompetista Dizzy Gillespie, um dos maiores nomes do jazz e um dos pais do bebop, em algumas sessões no Estúdio Eldorado. A ideia inicial de Gillespie era ambiciosa. Pretendia gravar acompanhado de mais de cem ritmistas e chegou a ensaiar com a Mocidade Alegre de Padre Miguel, mas logo foi convencido de que não haveria viabilidade técnica de registrar sessões que envolviam tamanha complexidade. Os Originais do Samba entraram em cena, mas, insatisfeito com os resultados, Gillespie acabou acertando a fórmula com o Trio Mocotó e outros ritmistas. Somaram-se ao grupo o cantor e compositor Branca Di Neve, no comando do surdo, Teo, fazendo uma segunda cuíca, e Carlinhos, que dividiu pandeiro com Nereu. As sessões ainda reuniram músicos da banda de Gillespie, como o guitarrista Al Gafa, o contrabaixista Earl May e o baterista Mickey Rocker. Convidada para interpretar Evil Gal Blues, parceria do crítico americano Leonard Feather e do vibrafonista Lionel Hampton, a cantora Mary Stallings fechou o time que, em três dias, produziria essa pequena pérola, esquecida por quase quatro décadas.
Recém-lançado pelo selo Biscoito Fino, com esforços do produtor suíço Jacques Muyal, que topou com as fitas máster em 2009, e do jornalista Jotabê Medeiros, que ajudou Muyal a desenterrar a história por trás das gravações, o CD apresenta deliciosos temas como Samba, do pianista de Gillespie, Mike Longo, Behind the Moonbeam, do guitarrista Gafa, e Rocking with Mocotó, uma divertida improvisação assinada por Gillespie. Como atesta o produtor suíço no encarte do CD, e é impossível contestar: “Sim, é muuuuito bom!”.
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