Dilma a Temer: “sei que o senhor não confia no regime”

Foto: EBC
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A presidenta da República em carta dirigida ao vice-presidente e mordomo chef Michel Temer afirmou que “passei os quatro primeiros anos de governo como presidenta pouco decorativa. O senhor sabe disso. Perdi vários quilos que tivera no passado e poderia ter perdido mais se fosse necessário”.

Mais adiante, queixou-se de outras medidas arbitrárias: “O senhor, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Menu do Palácio do Jaburu onde o Edinho Silva fez belíssimo trabalho elogiado durante o último Masterchef”.

Também revelou contrariedade com as refeições servidas a ela e a Lula: “Jamais eu ou o Lula (o ex- e não o fruto do mar) fomos chamados para refeições frugais, à base de frutas e legumes, mais econômicas inclusive; éramos meros comilões, secundários, subsidiários”.

A carta secreta, vazada por esta coluna em primeira mão é a seguinte:

Brasília, 21 de Abril de 2.016.

Senhor Vice Presidente e Mordomo Chef,

“Verba volant, scripta manent” (As verbas voam, as receitas permanecem.)

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade ao regime. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança do senhor e do seu entorno em relação a mim e ao meu cardápio.

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei os quatro primeiros anos de governo como presidenta pouco decorativa. O Senhor sabe disso. Perdi vários quilos que tivera no passado e poderia ter perdido mais se fosse necessário. Mas não consegui de tanto ser chamada para almoços e jantares do PMDB.

2. Jamais eu ou o Lula (o ex- e não o fruto do mar) fomos chamados para refeições frugais, à base de frutas e legumes, mais econômicas inclusive; éramos meros comilões de coxinhas, secundários, subsidiários.

3. O senhor, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Menu do Palácio do Jaburu onde o Edinho Silva fez belíssimo trabalho elogiado durante o último “Masterchef”. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone, enquanto comia uma macarronada.

4. No episódio Jamie Oliver, mais recente, ele deixou a cozinha em razão de muitas “receitas malfeitas”, culminando com o que o seu cozinheiro-mo0r, Moreira Franco (O “Gato Angorá”)  fez a ele,  retirando sem nenhum aviso prévio, todos os pratos que ele encomendara ao Ministro da Varanda Gourmet . Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta “conspiração dos chefs”.

5. Quando o senhor fez um apelo para que eu assumisse a coordenação alimentar, no momento em que o governo estava com a dispensa vazia, atendi e fizemos, eu e o Lula, aprovar a nova lista de compras. Tema difícil porque dizia respeito também às entradas e às sobremesas. Não titubeamos. Estava em jogo a culinária do país. Quando se aprovou o desjejum, nada mais do que fazíamos tinha sequência no almoço. Os acordos assumidos no restaurante do Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 almoços de líderes e bancadas veganas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.

6. De qualquer forma, sou Presidenta da República e o senhor resolveu ignorar-me chamando o chef Alex Atala para fazer o novo cardápio sem nenhuma comunicação ao Lula e ao Berzoini. Os dois, sabe o senhor, foram nomeados os melhores gourmets do PT. E o senhor não teve a menor preocupação em eliminar a lactose nem as gorduras trans da nova dieta dos deputados de São Paulo a mim ligados.

7. Democrata que sou, converso, sim, senhor Vice-Presidente, com a oposição ao regime Ravena. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no consultório aprendendo as receitas. Aliás, a primeira medida provisória do cardápio foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do meu grupo gastronômico, 6 (seis) do do Lula e 3 do Rui Falcão, recordando que foi aprovado por apenas 22 comensais. Sou criticada por isso, numa visão equivocada do nosso sistema de rodízio. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país em torno da troca da carne de boi por carne de soja. O Palácio do Jaburu resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que o senhor, no banquete de posse, manteve reunião de duas horas com Ferrán Adrià – com quem construí boa amizade – sem convidar-me para sequer um café da manhã, o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o melhor chef do mundo a Presidenta não se faz presente? Antes, no episódio da “espionagem” da nouvelle cuisine, quando as conversas começaram a ser retomadas, o senhor mandava o Erick Jacquin para conversar com o Henrique Fogaça. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança na minha dieta;

9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país ) sobre as melhores opções de lanche da tarde foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.

10. Até o programa da Palmirinha, aplaudido pela sociedade, cujas receitas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia doméstica e resgatar a confiança, foi tido como manobra desleal.

11. O PT tem ciência de que o vice-governo busca promover o seu bandejão particular, o que já tentou no passado, sem sucesso. O senhor sabe que, como Presidente da Confraria do PT, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: pasteis de Belém sem uma grama de açúcar em nome da unidade partidária.

Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para degustar e deglutir as receitas sociais mais avançadas.

Finalmente, sei que o senhor não tem confiança no meu regime hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.

Respeitosamente,

Doutora DILMA ROUSSEFF

DO. Presidenta da República

Palácio do Planalto


Comentários

Uma resposta para “Dilma a Temer: “sei que o senhor não confia no regime””

  1. Avatar de Mário de Oliveira Pinheiro
    Mário de Oliveira Pinheiro

    Esse colunista ridículo é um Barão de Itararé paraguaio.

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