Mulheres em relacionamentos desiguais têm mais chance de contrair HIV

Cerca 16 milhões de mulheres vivem hoje com HIV no mundo. Na faixa mais jovem (com idades entre 15-24 anos), segundo dados de 2013 da Organização Mundial de Saúde, elas são maioria e representam quase 60% do total de infecções.  Com esse panorama, ONGs têm tentado entender quais seriam as causas desse aumento. Uma suspeita é a possível correlação entre desigualdade de gênero e um avanço da infecção entre mulheres.

Alguns dados apontam para isso, mas não necessariamente o comprovam. Em países onde a desigualdade é mais acentuada, por exemplo, o número de mulheres infectadas é superior ao de homens – como é o caso da África subsaariana, onde o índice chega a 58%. 

Para ir além dos dados, assim, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, decidiram testar essa hipótese e avaliar se relacionamentos desiguais (em que a mulher sofre algum tipo de violência ou não tem voz) poderiam levá-las mais facilmente a comportamentos sexuais de risco. Os resultados serão publicados na revista Health Psychology. 

A pesquisa foi realizada na África do Sul, onde a prevalência de HIV e de violência contra a mulher são altas. Financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, o levantamento avaliou dados de mais de 700 adolescentes sexualmente ativos por períodos regulares em um prazo de 54 meses.  

Violência de gênero e relacionamentos desiguais levam a menor uso do preservativo. Foto: Ingimage
Violência de gênero e relacionamentos desiguais levam a menor uso do preservativo. Foto: Ingimage

No geral, 83% das participantes tinham experimentado algum tipo de violência no período de um ano. Meninas que relataram sofrer mais casos de violência por parceiro íntimo também se mostraram menos propensas a usar preservativo. Também adolescentes com mais voz e força dentro do relacionamento eram menos propensos a terem mais parceiros nos últimos 3 meses. 

“A violência e o menor poder dentro da relação afetam a dinâmica interpessoal que, por sua vez, aumenta o comportamento de risco e a não utilização do preservativo”, explica  Anne M. Teitelman, autora principal do estudo. 

Efeito diferente em homens

Segundo o estudo, que também avaliou meninos, embora um alto índice de violência dentro do relacionamento contribua para que o homem tenha mais parceiros – o mesmo não acontece com o preservativo. Ao contrário das meninas, meninos que relataram ter pouco poder na relação se mostravam mais suscetíveis ao uso da camisinha que elas.  

Os resultados indicam que o impacto da violência em comportamento sexual de risco difere significativamente por sexo e, portanto, essa diferença precisa ser levada em consideração em políticas públicas. 

“Nossos resultados sugerem que intervenções de prevenção do HIV devem incorporar componentes específicos de gênero”, diz Teltelman. “Também é preciso abordar questões de relações existentes em toda a comunidade – e não só levantar questionamentos sobre atitudes individuais. O foco deve ser também em tentar conter a desigualdade nas relações como um todo.”


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