Dilma: “eles vão aprofundar a crise e rasgar a Constituição brasileira”

Ovacionada ao chegar ao palanque da CUT (Central Única dos Trabalhadores) neste domingo, ao som de “não vai ter golpe”, em ato pelo dia 1º de Maio, no Vale do Anhangabaú, a presidenta Dilma Rousseff  falou ao público durante 15 minutos, enfatizado  a importância da luta nas ruas contra o golpe, referindo-se ao processo de impeachment que enfrenta, agora no Senado.

Dilma disse que a oposição “criou”um crime para tirá-la do governo. “Como eu não tenho conta no exterior, nunca embolsei dinheiro do povo brasileiro, não recebi propina, eles tiveram que inventar um crime. Em 2015, eu fiz seis decretos chamados de suplementação [ao plano econômico do País], o FHC fez 101, em 2001. Para ele não era golpe, e para mim é.”

Dilma aproveitou a ocasião para anunciar o aumento de 9% no Bolsa Família, a correção de 5% na tabela do imposto de renda a partir do ano que vem, a prorrogação do programa Mais Médicos e uma proposta de ampliação da licença paternidade para 20 dias.

A presidenta comparou o golpe que está em curso no País ao golpe a golpe de 1964. “Não é um golpe com arma, com tanque nas ruas, eles vão aprofundar a crise e rasgar a Constituição. Eles fazem isso porque há 15 meses perderam uma eleição direta.”

Ao ser citado, o presidente Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, foi vaiado por todos que estavam presentes. “Esse senhor foi o principal responsável por desestabilizar meu governo. Apostaram sempre contra o povo brasileiro e são responsáveis pelo fato da economia brasileira estar passando por essa grave crise. Cunha quer usar seu cargo para garantir sua impunidade.”

A presidenta exaltou as conquistas dos trabalhadores nos anos de governo do PT e criticou o plano de governo da oposição. “O golpe é contra a conquista dos trabalhadores. O plano de governo da oposição pede o fim da valorização do salário mínimo, do reajuste dos aposentados. Querem transformar a CLT em letra morta.”

No final de sua fala, Dilma se emocionou, lembrou do histórico de sua luta e disse que resistirá a qualquer tentativa de golpe.

“Eles vão aprofundar a crise e rasgar a Constituição. Eu vou resistir e lutar até o fim! Lutei durante minha vida inteira, resisti à ditadura militar. O meu mandato foi dado por 54 milhões de pessoas que acreditaram em um projeto. Se eles são contra esse projeto, que vão às urnas e se coloquem sobre o crivo do povo brasileiro. Não passarão! É Uma eleição indireta sob um disfarce de impeachment.”

Haddad
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ressaltou os retrocessos da democracia durante o processo de impeachment contra Dilma, sobretudo por não haver nenhuma base jurídica. Ele também reiterou que acredita na força da classe trabalhadora para evitar os retrocessos.

“Enquanto a classe trabalhadora estiver unida, jamais haverá ameaças às conquistas. A direita comete sempre o mesmo erro: subestimar a luta dos trabalhadores! Vamos em frente, vamos unidos, a luta continua”, disse

Movimentos sociais

A Brasileiros conversou com Raimundo Bonfim, 52, advogado e  coordenador-geral da Central dos Movimentos Populares, a respeito do ato e das medidas sociais anunciadas pela presidenta.

“É muito importante esse anúncio da presidenta Dilma porque vem na hora em que nós estamos nas ruas nos mobilizando, resistindo ao golpe, que neste momento está para ser votado no Senado. São medidas justas, não são medidas populistas, não são criações de novos programas, são anúncios dentro de medidas já existentes.

Sobre o programa Mais Médicos, que amplia o quadro com a contratação de profissionais de outros países, Bonfim ressaltou a importância dessa preocupação. “É fundamental essa prorrogação do Mais Médicos, que atende milhões de pessoas de baixa renda”.

Fora isso, ele também enalteceu a fala da presidente a respeito do Minha Casa, Minha Vida. Dilma anunciou a criação de 25 mil casas do programa em áreas urbana e rural. “Podemos chegar a 35 mil, porque na sexta-feira a presidenta vai fazer um anúncio lá em Brasília, na  assinatura de contrato”, explicou.

Ainda segundo Bomfim, as novas regras para a tabela de imposto de renda também são importante porque ajuda o trabalhador. “São medidas que nós já vínhamos reivindicando desde 2015 e que ela anuncia em um dia história, de luta das classes trabalhadoras. Se temos algo importante para comemorarmos, nesse 1º de Maio e na eminência desse golpe, é esse anúncio corajoso da presidenta Dilma Rousseff, que mostra seu compromisso com os movimentos sociais e com a população de baixa renda. Nós saímos daqui muito revigorados e vamos intensificar a luta contra o golpe, porque nós sabemos que um eventual governo Michel Temer não anunciaria essas medidas, pelo contrário, sinaliza um ataque aos direitos dos trabalhadores e dos programas sociais.”

 

Foto: Carolina Trevisan
Raimundo Bonfim, 52, advogado e coordenador-geral da Central dos Movimentos Populares. Foto: Carolina Trevisan

 


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