PSDB apostou no impeachment e agora começa a perder o apoio da direita

O senador Aécio Neves (PSDB) com Renan Calheiros (PMDB) - Foto:  Jefferson Rudy/ Agência Senado
Senador Aécio Neves (PSDB) com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB) – Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O cientista político Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais, disse que o PSDB não está conseguindo mais se apresentar como o principal representante da direita no Brasil. Desde dezembro, os principais presidenciáveis do partido vêm caindo nas pesquisas de intenção de voto. 

No levantamento realizado pelo Datafolha em dezembro, o senador Aécio Neves tinha 27% das intenções de voto, com sete pontos de vantagem sobre Lula (PT), o segundo colocado na pesquisa. Depois disso tudo piorou para o PSDB: Aécio caiu para 24% em fevereiro, 19% em março e chegou aos 17% em abril. Agora ele aparece atrás de Lula, com 21%, e de Marina Silva (Rede), com 19%. Os demais presidenciáveis tucanos também despencaram: o governador Geraldo Alckmin passou de 14%, em dezembro, para 9%, em abril; e o senador José Serra caiu de 15%, em fevereiro, para 11% em abril.

Esse desgaste vem atingindo o PSDB como um todo, e não apenas um ou outro presidenciável da legenda: em novembro o PT tinha a preferência de 11% dos eleitores, contra 8% do PSDB, ainda segundo o Datafolha; na pesquisa realizada em abril, a preferência pelo PT se manteve em 11%, mas os simpatizantes do PSDB se reduziram a 4%. O partido ficou atrás até do PMDB, com 6% das preferências.

Na opinião de Carlos Ranulfo, o PSDB não está conseguindo capitalizar o desgaste do governo e do PT: “Creio que desgaste geral dos partidos, evidente desde 2013, as seguidas menções a Aécio nas delações da Operação Lava Jato e até mesmo o escândalo da merenda em São Paulo podem estar influindo” nesse resultado. Como o partido se apoia sobretudo numa retórica fundada na crítica à corrupção, tem sido prejudicado pelas repetidas acusações de envolvimento dos próprios tucanos nas delações provenientes da Operação Lava Jato.

Um outro fator pode estar pesando nessa queda. Como aponta Carlos Ranulfo, “existe a possibilidade de que uma parcela da sociedade esteja começando a se descolar dos tucanos em busca de algo ainda mais  conservador. Tal movimento seria possibilitado pela percepção de que o PT deixou, ou está prestes a deixar de ser, o temível adversário que sempre foi. Sem a ‘ameaça’ do PT, a direita brasileira talvez não precise mais se escorar no PSDB”.

Uma evidência desse fenômeno pode ser encontrada nas pesquisas realizadas entre as pessoas que participaram dos protestos a favor do impeachment em São Paulo. Na manifestação de 15 de março de 2015 em São Paulo, 37% dos manifestantes declaravam apoio ao PSDB, segundo o Datafolha. Essa taxa caiu para 30% na manifestação de dezembro e para 21% no protesto de 13 de março de 2016.

Entre os participantes desta última manifestação, 79% declararam ter votado em Aécio Neves no segundo turno da eleição de 2014, segundo o Datafolha. Apesar disso, Aécio e o governador Geraldo Alckmin foram vaiados e ofendidos pelos participantes do protesto, e deixaram a av. Paulista às pressas. 

A queda de Aécio Neves abriu caminho para a ascensão do deputado Jair Bolsonaro (PSC): este tinha 4% das intenções de voto em dezembro, e subiu para 6% em março e atingiu 8% em abril.  O mais espantoso é que, entre os eleitores com renda familiar superior a 10 salários mínimos, Bolsonaro chega a 21% das intenções de voto. Diante disso, é possível que as próximas eleições não sejam mais marcadas pela polaridade entre PT e PSDB, como vem ocorrendo desde 1994.

Ranulfo observa ainda que a proposta de realizar novas eleições diretas neste momento tem poucas chances de sucesso: “A proposta só teria alguma viabilidade se fosse sustentada por amplo movimento de massas, do tipo ‘diretas já’. Pelo que mostram as pesquisas de diversos institutos, a grande maioria não deseja o próximo governo Temer e prefere a realização de um novo pleito”.

Segundo ele, “tal desejo tem base objetiva: afinal, o PMDB encontra-se profundamente envolvido no caso da Lava Jato e o próprio Temer já foi citado nas delações. Mas daí a se chegar a um movimento com ampla repercussão vai uma enorme distância. A eclosão de um movimento como este dependeria, pelo menos, que o campo em torno da presidente e do PT se dispusesse e a isso e, a começar por Dilma, é pouco provável que isso ocorra. Dilma insiste na tese de que encampar as diretas agora é aceitar o processo de impeachment que ela própria denúncia, com razão, como um golpe legislativo. Sendo assim, a proposta tende a morrer no nascedouro, ou seja, no próprio Congresso”.


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