Marcos Lisboa: “Não houve ruptura entre os governos do PT e de FHC”

Marcos Lisboa, presidente do Insper. Foto: Luiza Sigulem/Brasileiros
Marcos Lisboa, presidente do Insper. Foto: Luiza Sigulem/Brasileiros

Embora a polarização política tenha dividido o Brasil e o mundo econômico entre liberais e desenvolvimentistas, os governos do PT, a partir de 2003, não romperam com a política econômica e social iniciada nos anos 1990 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. A opinião é de Marcos Lisboa, presidente do Insper (instituição de ensino superior que atua especialmente na área econômica), que palestrou no seminário Rumos da Economia 2016, promovido nesta sexta-feira (6) pela Revista Brasileiros.

De acordo com o economista, que chegou a ser cogitado para integrar a equipe econômica do eventual governo Michel Temer, os países ao redor do mundo que alcançaram crescimento e desenvolvimento ao longo da história foram aqueles que organizaram suas instituições, como o Judiciário, e cuidaram de dois serviços sociais básicos: educação e saúde. “Indicadores sociais importam: países com educação e saúde arrumadas se desenvolveram mais”, cravou o economista, que sustentou sua palestra com “base em dados”.

Tão importante quanto desenvolver-se socialmente, um país que cresce tem suas instituições consolidadas. Neste caso, o Brasil também não fez o dever de casa. Lisboa compara: “Se o Brasil tivesse o capital físico, educação e saúde dos americanos, ainda assim teríamos pouco menos da metade da renda americana. O que explica? Testou-se com dados e a surpresa é que [o funcionamento das] instituições, as regras do jogo importam”, como a organização da sociedade, o sistema Judiciário, as características do mercado de crédito “e tantos fatores institucionais ligadas ao crescimento”.

Neste aspecto, ele critica os governos do PT ao afirmar que as agências reguladoras perderam autonomia a partir de 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao poder. As diferenças entre petistas e tucanos terminariam aí. “Não consigo fazer um contraste entre os governos do PT e de FHC. Não consigo ver uma ruptura”.

Mesmo na política social, “o impressionante avanço no governo Lula teria sido apenas uma continuidade”: “O Brasil convergia para um Estado de Bem Estar Social, com menos discricionalidade na política econômica e social, voltada para educação, saúde e grupos vulneráveis”.

De 1990 a 2009, esta foi a direção. A partir de 2011, lembra ele, o Brasil entrou em recessão: “Ela não começou em 2014. A redução do emprego formal começou em 2011. O investimento cai em 2011, 2012 e 2013.” Por esta razão, Lisboa recomenda o ajuste fiscal, embora não acredite que ele seja o remédio para todos os males da economia: “Ajuste fiscal não é bom sempre, mas deve evitar a expansão de gastos.”

O seminário Rumos da Economia acontece todo ano. Promovido pela Revista Brasileiros, tem por objetivo discutir o cenário econômico do presente e apontar os caminhos para o desenvolvimento do País.

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