O escritor peruano Mario Vargas Llosa, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2010, estará em São Paulo nesta segunda-feira (9) para dar uma palestra na abertura do ciclo Fronteiras do Pensamento 2016, no Teatro Cetip, localizado no Instituto Tomie Ohtake. Em seguida, Llosa irá a Porto Alegre para dar outra palestra na quarta, dia 11.
Em seu artigo Uma pausa no caminho, publicado no jornal El País, ele comenta a experiência de completar 80 anos: “Não há mérito algum em completar 80 anos; em nossos dias, qualquer um que não tiver maltratado excessivamente seu organismo com álcool, tabaco e drogas pode conseguir. Mas, talvez, seja uma boa oportunidade para fazer uma pausa no caminho e olhar para trás antes de retomar a cavalgada”.
Após falar de sua infância, ele lista os escritores que mais o impressionaram: “É difícil dizer a imensa felicidade e riqueza de sentimentos e de fantasia que os bons livros que li me deram — e continuam me dando. Nada me acalma mais quando estou inquieto ou me eleva o espírito se me sinto deprimido do que uma boa leitura (ou releitura). Ainda me lembro da fascinação maravilhada com a qual li os romances de Faulkner, os contos de Borges e Cortázar, o universo crepitante de Tolstói, as aventuras e desventuras de Don Quixote, os ensaios de Sartre e de Camus, e os de Edmund Wilson, especialmente a obra-prima Rumo à Estação Finlândia, que li do começo ao fim pelo menos três vezes. O mesmo poderia dizer das sagas de Balzac, de Dickens, de Zola, de Dostoiésvki, e o difícil desafio intelectual que foi poder conseguir desfrutar de Proust e Joyce”.
Ele elogia sobretudo “Flaubert, o mais amado dos autores”: “Nunca esquecerei aquele dia, recém-chegado a Paris, no verão de 1959, quando comprei na La Joie de Lire, da Rue Saint-Séverin, um exemplar de Madame Bovary, que me deixou enfeitiçado a noite inteira, lendo sem parar. Devo a Flaubert não apenas o prazer proporcionado por seus romances e contos e sua correspondência formidável. Devo a ele, acima de tudo, ter me mostrado o escritor que queria ser, o gênero de literatura que correspondia à minha sensibilidade, aos meus traumas e aos meus sonhos”.
Ele assinala ainda que escrever é uma maneira de viver: “Não se escreve para viver, embora se ganhe a vida escrevendo. Em vez disso, se vive para escrever, porque o escritor de vocação continuará escrevendo, mesmo que tenha pouquíssimos leitores ou seja vítima de injustiças tão monstruosas como as vivenciadas por Lampedusa, cuja obra-prima absoluta, O Gattopardo, o melhor romance italiano do século XX e um dos mais sutis e elegantes já escritos, foi rejeitado por sete editoras, e ele morreu acreditando que tinha fracassado como escritor. A história da literatura está cheia dessas injustiças, como o primeiro Prêmio Nobel de Literatura, que os acadêmicos suecos deram para o esquecido e esquecível Sully Prudhomme, e não para Tolstói”.
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