Vida pós-crise: em quanto tempo o Brasil volta a crescer? A pergunta que não quer calar, para milhões de brasileiros, intitulou a última rodada de debates do Seminário Rumos da Economia: Onde e Como Investir Para Crescer na Turbulência, evento promovido nesta sexta-feira (6), em São Paulo, pela revista Brasileiros. Em suas palestras, Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, e Herlon Faria, diretor da Wipro, naturalmente, não determinaram um prazo efetivo para a volta por cima, mas enfatizaram que esse tempo será mais breve se a economia do País estiver norteada, sobretudo, pelo incentivo à produtividade industrial.
Com 18 anos de atuação na Wipro, Faria iniciou sua palestra enfatizando que ao longo desse período a empresa, gigante indiana com atuação global no mercado de Tecnologia da Informação, desconhece quadros recessivos. “Ano após ano, a gente não enxerga crise. Vim aqui para falar da metade do copo que está cheia”, afirmou. O executivo esclareceu que essa “blindagem” vem do fato de a Wipro estar inserida em um mercado competitivo pautado por ambições “extraordinárias”, e não pelo comportamento “ordinário” de agir com retração a qualquer sintoma de crise econômica, como acontece em muitos setores.
Faria afirmou que, por exemplo, o impacto da crise de 2008 foi muito maior para as montadoras da indústria automobilística norte-americana do que para empresas da Coréia do Sul e da China, porque a indústria asiática priorizou, nos últimos 20 anos, a tecnologia como vértice de crescimento econômico. “A General Motors, por exemplo, virou uma estatal americana. O governo comprou a empresa para desonerá-la e gradualmente devolvê-la aos investidores”, disse.
Em sua palestra, Bernard Appy também fez uma analogia envolvendo a indústria sul-coreana, mas em relação ao Brasil. Segundo ele, a capacidade produtiva da Coréia do Sul era inferior à brasileira dos anos 1980, mas, em duas décadas, o crescimento da eficiência produtiva dos coreanos mais que dobrou. Segundo Appy, há vários fatores crônicos que estancam a produtividade industrial do País a um crescimento pífio, da ordem de menos de 1% ao ano: “O custo de capital e as taxas de juros prejudicam investimentos e o crescimento industrial. Não estamos em uma trajetória confortável, e há muita burocracia e insegurança jurídica no País. Além disso, nosso sistema tributário é absurdamente complexo. O custo de conformidade, no Brasil, é o mais alto do mundo”.
Appy também dedicou espaço generoso de sua palestra para alertar a iminência de um fator – segundo ele, pouco considerado por outros economistas – que pode colocar o País em uma situação ainda mais adversa: o envelhecimento da população e as conseqüências do colapso da Previdência Social para a máquina do Estado. Para ele, em um futuro próximo, essa perspectiva demandará ações drásticas, mas necessárias. “É socialmente justo que uma pessoa que está com 50 se aposente? Ela não tem condições de trabalhar? Há uma diferença entre medidas impopulares e socialmente injustas. Essa discussão é fundamental. Se não, vamos deixar uma conta impagável para nossos filhos e nossos netos.”
O seminário Rumos da Economia acontece todo ano. Promovido pela Revista Brasileiros, tem por objetivo discutir o cenário econômico do presente e apontar os caminhos para o desenvolvimento do País.
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