O falso apocalipse

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Hillary e Trump empatam em estados decisivos. Foto: Reprodução/YouTube
Hillary e Trump empatam em estados decisivos. Foto: Reprodução/YouTube

No último dia 10 uma pesquisa de opinião da Universidade de Quinnipiac, escola do Estado de Connecticut, divulgou trabalho onde o candidato Donald Trump aparece correndo focinho a focinho na competição eleitoral contra Hillary Clinton. Em três estados chaves- Flórida, Ohio e Pensilvânia- os presumidos nomeados dos Partidos Republicano e Democrata teriam entre eles diferenças de um a quatro pontos nas preferências. Ou seja: imaginava-se, até então, que o republicano estaria atrás da democrata por algo entre 6% e 13%. E, este estudo verdadeiro, o milionário nova-iorquino teria subido de modo avassalador no espaço de uma semana.

O choque desta constatação provocou a formação de ensurdecedor coral de carpideiras. A mídia incorporou São João Apóstolo e anunciou o Apocalipse. Nas múltiplas torres Trump o resultado da pesquisa foi celebrado com a extravagância de que apenas aquele candidato é capaz. Da esquerda à direita moderada da nação houve choro e rangeres de dentes, além do calafrio na espinha típico dos que rumam ao cadafalso. Mas como diz a Bíblia: “cuidado com os falsos profetas…”.

Porém, e sempre há um porém, aos poucos foram surgindo vozes contra toda essa afobação. Nate Silver, o guru máximo das análises de pesquisas, correu ao Twitter para redigir 140 toques de impropérios. “F…-se estes resultados”, grafou, para depois explicar o óbvio: uma pesquisa isolado agora não tem poder de profecia. Na verdade, não vale nada. Especialmente numa eleição como a atual que já se provou para lá de bizarra. Outras mentes ponderadas também reforçaram as ideias de que as pesquisas de opinião devem ser avaliadas coletivamente: apenas a pluralidade destas poderá apontar tendências. Ou seja: pesquisas são como entranhas de animais: só o conjunto delas serve para a leitura do que o futuro nos reserva.

E mais: a Quinnipiac errou na coleta de opiniões. Os questionados não representam um retrato dos eleitores com histórico de votação. Seria preciso buscar gente que votou, pelo menos, em 2012, ao invés de permitir palpites de qualquer cidadão disposto a responder perguntas em telefone de linha direta ( mais de 46% dos lares americanos usam apenas telefones celulares). Verificou-se também certo preconceito na amostragem por raça. Na Flórida, por exemplo, em 2012, 67% dos que votaram eram pessoas brancas. Porém na pesquisa da universidade de Connecticut, caucasianos representaram 69%. Em Ohio, 79% dos votantes nas últimas eleições se diziam brancos, enquanto a Quinnipiac colheu 83%. Já na Pensilvânia a diferença, no mesmo grupo etário, foi de 78% para 81% agora.

Para complicar ainda mais a amostragem desta pesquisa, houve diminuição significativa de pesquisados não brancos. Eles representavam 23,7% dos eleitores no país em 2014. Na Flórida, especialmente, esses números são ainda maiores. A Quinnipiac colheu menos de 18% de cidadãos de origem hispânica, negros e asiáticos- todos de comprovada tendência democrata. E já é possível adiantar que haverá um aumento significativos de registro destes grupos para as eleições de novembro. Hillary teria uma vantagem de 46 pontos sobre Trump nestes segmentos étnicos.

O passar do tempo revelou outros problemas com esta pesquisa do dia 10. O fato de Trump ter saído de uma temporada onde venceu fácil as prévias e agarrou a nomeação presumida de seu partido pesou no contexto. Hillary ainda luta contra Bernie Sanders pela indicação democrata, ainda que matematicamente ela praticamente tenha vencido a disputa. Nate Silver- que no passado acertou resultados eleitorais com margens de erro abaixo de 1%- recomenda que só se preste atenção ao conjunto de pesquisas, com especial concentração sobre os estudos regionais, um mês depois das convenções dos partidos. Somente, portanto, depois de julho. E é bom lembrar que a única garantia de placar final será a contagem de votos. Mesmo assim…Lembre-se do imbróglio do ano 2000 que deu a Presidência a George W. Bush, mesmo tento ele recebido menor número de votos diretos de cidadãos.


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