Aceleradora Wayra, do grupo Telefónica, já graduou 54 startups desde que começou a operar no Brasil, em 2012 - Foto: Rogério Lorenzoni/Wayra Divulgação
Aceleradora Wayra, do grupo Telefónica, já graduou 54 startups desde que começou a operar no Brasil, em 2012 – Foto: Rogério Lorenzoni/Wayra Divulgação

O mercado de tecnologia da informação no Brasil tem respirado aliviado em meio às incertezas econômicas. Embora as projeções para a economia sejam de retração para 2016, a expectativa do setor é de que ele cresça 2,6% em relação a 2015, com previsão de faturamento superior a R$ 200 bilhões. A máxima de que momentos de crise geram oportunidades se encaixa bem ao setor de TI, uma vez que, nessas condições, empresas de todos os ramos são obrigadas a aumentar a eficiência de seus negócios para permanecerem competitivas. Uma das saídas mais executadas é a digitalização dos processos, um negócio que tende a beneficiar diretamente empresas de tecnologia da informação.

CEO e sócio-fundador da Conquest One, consultoria brasileira de TI especializada em recrutamento de profissionais, Antonio Loureiro avalia que, apesar de a economia continuar mal, o otimismo na área da TI se justifica. “Várias tecnologias surgiram ao longo dos últimos anos, impelindo empresas a se atualizarem para entrar em novos mercados, reduzir custos e lançar novos produtos. A área de TI passa ao largo da crise.”

À medida que o mercado amplia seus esforços para a chamada transformação digital, a demanda por profissionais especializados aumenta na mesma proporção. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação, o setor abriga 1,3 milhão de profissionais atualmente, número que deve crescer 30% até o fim de 2016. Gerência de tecnologia, análise de infraestrutura e negócios e consultoria de sistemas de gestão são algumas das áreas que mais precisam desses profissionais no Brasil. Correm por fora os setores de big data (no qual se armazena imenso volume de dados), desenvolvimento de tecnologias em nuvem e web.

O problema aqui é encontrar profissionais qualificados. De acordo com estudo da Associação para Promoção da Excelência do Software (Softex), o mercado brasileiro de TI terá um déficit de 400 mil profissionais até 2022. “Nesse contexto, gente mais preparada, criativa, atualizada com as tendências globais se sobressai. Isso explica por que os salários em TI continuam sendo mais altos que a média de outros setores. É a velha lei da oferta e da procura”, ressalta Antonio Loureiro.

Segundo a IDC Brasil, 54% das médias e grandes empresas brasileiras embarcarão em projetos de transformação digital ao longo de 2016. Estratégias que devem atrair investimento em tecnologia em nuvem, big data, mobilidade e redes sociais. Pietro Delai, gerente de Consultoria e Pesquisa Enterprise da IDC Brasil, ressalta, no entanto, que os investimentos serão todos pensados para trazer retorno rápido. “A TI passa por todos os desafios de negócios no Brasil porque houve redução da demanda. O mercado está comprando menos, isso desde o consumidor que reduziu a compra de tablets e smartphones até as empresas que adquirem menos softwares. Hoje, um gestor de TI tem conseguido aprovar projetos que demonstrem, em primeiro lugar, retorno em um prazo muito curto e, em segundo, algo que coloque a empresa em vantagem competitiva”, explica Delai.

Ao mesmo tempo que o mercado de smartphones, tablets e PCs enxuga, a expectativa é de que as compras de novos dispositivos aumentem, entre eles as impressoras 3D, tecnologias wearables (acessórios que podem ser vestidos, como relógios conectados à web), televisores inteligentes, óculos de realidade aumentada e drones. Outro destaque fica para soluções em internet das coisas (objetos usados no dia a dia, como eletrodomésticos, conectados à rede mundial de computadores), que deve movimentar R$ 14,4 bilhões no Brasil em 2016.

Nos últimos dez anos, serviços tradicionais, aos quais você jamais cogitaria recorrer numa tela de computador, foram redimensionados para caber no celular. Internet banking, reserva de hotéis, pedidos de táxi, filmes e músicas por streaming, troca de mensagens instantâneas e até mesmo cursos de graduação cabem na palma da mão. Na maioria das vezes, esses serviços foram imaginados por jovens empresas de base digital, as startups. Facebook e Google, duas das empresas mais valiosas do mundo, são exemplos de empresas que começaram suas histórias como startups. Para colocar as coisas em perspectiva, analistas de mercado acreditam que, das 500 maiores empresas da revista americana Fortune (especializada em negócios) pelo menos 100 acabarão substituídas até o final da década por startups que ainda nem existem.

Momentos de crise econômica também tendem a beneficiar essas companhias, uma vez que seus modelos mais enxutos – o que inclui redução de funcionários – se viram melhor em situações econômicas adversas. Além disso, startups carregam em seu próprio conceito a proposta de criar soluções inovadoras e mais econômicas. “Em relação à crise, as startups estão muito bem, obrigada”, diz Rafael Ribeiro, gerente executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). “Enquanto as indústrias tradicionais mandam funcionários embora, elas contratam.”

Essas pequenas empresas de tecnologia também se tornaram a menina dos olhos das grandes empresas e até mesmo dos governos, que lançam iniciativas para recrutar startups que proponham soluções para serviços públicos, entre eles saúde, segurança e educação. Para Ribeiro, a crise não afetou os investimentos nesse nicho. Ele chama a atenção para o número cada vez maior de programas de investimento em startups que grandes empresas vêm criando para impulsionar projetos empreendedores. Bancos como Bradesco e Itaú, a petroquímica Brasken e a seguradora Porto Seguro, por exemplo, lançaram programas de apoio a startups. Multinacionais com representação no Brasil, como o Grupo Telefónica, também têm aumentado suas ofertas de apoio ao empreendedorismo. Em um cenário em que o dólar se mantém valorizado frente ao real, investir em empresas brasileiras pode ser um negócio rentável para investidores internacionais.

Criada em 2012, a Redpoint e.ventures é uma das principais empresas brasileiras de capital de risco com conexões no Vale do Silício. Na ocasião de seu lançamento, a companhia anunciou a criação de um fundo de US$ 130 milhões (R$ 459 milhões) dedicado a investir em empresas brasileiras de tecnologia em estágio inicial. “O mercado onde essas companhias atuam é muito concentrado por empresas de tecnologia. Então naturalmente é mais fácil crescer”, avalia Manoel Lemos, sócio da Redpoint e.ventures. “Startups de internet oferecem novidades, usam tecnologia e rede para atuar de forma mais eficiente e inovadora que as empresas tradicionais. Elas são mais baratas e eficientes, um tipo de valor que interessa mais em momentos de crise.”
Segundo a ABStartups, o Brasil conta com 4.165 jovens empresas de base digital. Só no ano passado, o crescimento foi de 25%. A estimativa da organização é de que o mercado nacional de startups movimente anualmente cerca de R$ 2 bilhões com expectativa de que até 2035 elas já representem 5% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.