Vazamento mostra que Temer está cercado, diz Roberto Amaral

A presidenta Dilma Rousseff com Roberto Amaral durante a campanha de 2014 - Foto: Ichiro Guerra/ Dilma 13
A presidenta Dilma Rousseff com Roberto Amaral durante a campanha de 2014 – Foto: Ichiro Guerra/ Dilma 13

O ex-presidente do PSB Roberto Amaral sustenta que o afastamento provisório da presidenta Dilma Rousseff não encerrou a crise política. Ao contrário: “O golpe agudizou a crise”, disse Amaral à Brasileiros. A composição do ministério mostra que o interino Michel Temer teve de pagar a fatura a todos os grupos que o apoiaram: “Como me disse um de seus aliados logo após a nomeação do ministério: o Michel cumpriu os compromissos”.

Segundo Amaral, a gravação de uma conversa do ministro do Planejamento, Romero Jucá, divulgada nesta segunda-feira (23) pelo jornal Folha de S.Paulo  “é apenas a ponta de um iceberg”: “É uma gangue costurada pelo Eduardo Cunha. Sua eleição não foi um fato isolado. A composição do ministério mostrou isso: é um ministério formado por investigados na Justiça”.

O problema é que Temer cumpriu os compromissos, mas precisava seguir adiante para governar. Amaral vê nesse vazamento uma operação de cerco ao presidente interino. No meio da gravação, o ministro Romero Jucá sugere que Eduardo Cunha será descartado mais adiante: “Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra”.

Segundo Amaral, “Temer sabe que precisa se livrar de Cunha, mas o Cunha o ameaça. Foi Cunha que comandou a votação do impeachment, não foi a oposição. É um celerado que controla a Câmara. Foi ele que indicou o líder do governo”. A conversa de Jucá ocorreu em março, mas a gravação só foi divulgada agora, após o afastamento de Dilma.

“A crise é profunda”, diz Amaral: “Não sei quantos partidos vão sobreviver. As instituições hoje estão de joelhos. Não conheço um exemplo de sobrevivência de democracia sem partidos. O PMDB não é um partido: o PMDB é uma empresa que vende apoios. É um líquido que assume a forma do vaso em que foi jogado”.

Apesar disso, “há fatos que os arquitetos do golpe não levaram em conta. A sociedade não está aceitando o golpe. A resistência está crescendo. O movimento social não saiu das ruas, como mostra o ato contra o Temer realizado neste domingo em São Paulo”.

Segundo Amaral, “é um governo ilegal, posto no cargo a partir de uma operação inconstitucional. Ele não tem legitimidade para levar à frente qualquer processo de mudança, mas estão fazendo uma política de terra arrasada, como se o Senado já tivesse afastado Dilma definitivamente. Ele ainda não é presidente, é só um interino. Mas vai agravar a recessão, promover o desemprego e a desarticulação das empresas nacionais”.

Mas ele está preocupado com as instituições. Na crise de 1954, a direita levou Getúlio Vargas ao suicídio e assumiu o governo, mas não pôde impedir a eleição de Juscelino Kubitschek e João Goulart em 1955. “Hoje temos à frente as eleições de 2018. O objetivo dessa coalizão golpista é destruir Lula: eles querem desmoralizá-lo, colocá-lo na cadeia ou destruir o PT”. Tudo caminha para uma reforma constitucional para implantar o parlamentarismo: o objetivo deles é deixar o governo sempre sob o controle do Congresso, para evitar que outro governo de esquerda possa promover reformas.


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