O PT vai usar a crise política decorrente da queda do ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), para tentar anular o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Nesta segunda-feira (23), o senador senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que “não há a menor condição de iniciarmos a apreciação da meta fiscal e nem qualquer reunião relativa ao processo de impeachment” após a divulgação das conversas entre o ex-senador Sergio Machado (PMDB-CE) e o ministro licenciado.
O partido vai usar a gravação da conversa de Jucá para demonstrar que o todo o processo de impeachment esteve viciado por uma conspiração para a barrar a Operação Lava Jato. A presidenta Dilma Rousseff afirmou, na noite de segunda, que “se alguém ainda não tinha a certeza de que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder e na fraude, as declarações fortemente incriminatórias de Jucá sobre os reais objetivos do impeachment e sobre quem está por trás dele eliminam qualquer dúvida”.
Dilma participou nesta segunda da abertura do 4º Congresso Nacional da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil. Sob os gritos de “Fora Temer”, Dilma disse que vai continuar lutando para defender o seu mandato.
No último dia 11 de maio, o então ministro José Eduardo Cardozo recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar suspender o impeachment alegando que presidente da Câmara, Eduardo Cunha, havia agido com “desvio de finalidade”, mas o ministro Teori Zavascki negou a liminar, apontando que não seria possível comprovar as rais motivações de Cunha. Com a divulgação da conversa de Jucá, as provas surgiram: “Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”.
A conversa de Jucá trouxe revelações surpreendentes sobre a articulação do processo de impeachment. O cientista político Aldo Fornazieri, da Escola de Sociologia e Política, declarou que “a gravação mostrou que houve um golpe que envolveu o PMDB, o PSDB, o Judiciário e até as Forças Armadas. Os ministros do STF precisam se explicar”.
Fornazieri se refere ao seguinte trecho: “Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar”. Segundo Fornazieri, “se este fosse um País sério, essa cúpula do PMDB deveria estar presa por conspiração contra as instituições democráticas”.
Os partidos de esquerda agora exigem esclarecimentos sobre as declarações de Jucá: “Vamos negociar para suspender qualquer votação enquanto isso não for resolvido. Estamos dialogando e vamos usar todos os instrumentos regimentais para impedir a votação”, declarou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA).
O senador Paulo Rocha (PT-PA) classificou a conversa de Jucá como “mais grave” que o caso de Delcídio do Amaral: “Foi mais grave que a atitude do Delcídio e o Supremo mandou prendê-lo. Nós queremos coerência das instituições.” Segundo Rocha, “foi a confissão do golpe”: “Por muito menos, o Lula deixou de ser nomeado ministro”.
“É uma situação muito semelhante a que aconteceu com o Delcídio”, disse o vice-presidente do PDT, deputado André Figueiredo (CE). Para ele, a crise vai atrasar as votações no Congresso, mesmo porque “votar às pressas em meio a esse escândalo pode trazer ainda mais problemas para o País”. Na segunda-feira o PDT anunciou que entrará com processo disciplinar contra Jucá no Conselho de Ética do Senado.
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