A rapaziada do escritório se amarra nas lutas do UFC. Para quem não está ligando o nome à coisa, trata-se daquela pancadaria televisionada – via cabo e paga-para-ver. Tem umas 800 ligas que promovem campeonatos de porradas. Eu mesmo não costumo prestar atenção em dois caras se pegando. E pagar para ver? Aqueles são sopetões que valem milhões. Só entro com grana se quem for apanhar seja algum sujeitinho de quem não gosto. Mesmo assim, muitos desses eu mesmo poderia fazer o serviço de graça.
Acontece que meus colegas se ligam em um quebra-pau oficializado. Fazem matérias, acompanham campeonatos, têm seus preferidos e discutem estratégias como se fossem técnicos do vale-tudo. Em meados de março, quando o brasileiro Maurício Shogun lutou contra o americano Jon Jones, caí na besteira de dar palpite. Estavam todos assanhados para ver o pega pra capar em Newark, Nova Jersey, e prontos para defender a honra nacional. Olhei para o gringo inimigo e disparei: “Esse negão vai dar um pau no brasuca”.
Só não apanhei porque me escondi atrás de uma poltrona e empunhei um grampeador como arma. Os caras iam montando um telecatch ali mesmo. Observaram minha ignorância sobre o nobre esporte, apontaram óbvias falhas em minha análise e fizeram alguns comentários sobre a honra de mamãe.
Pois bem, um dia antes da refrega, o Jones estava na rua e impediu um assalto. Fez isso no braço, sem conhecer a vítima, e em plena luz do dia. Não preciso nem dizer que o infeliz meliante estava armado. O que não lhe valeu de nada. Ou melhor: rendeu-lhe umas muquetas a mais. O lutador americano provara que é o próprio Batman. Não precisa nem vestir uniforme e capa. Se sair pelado, já está uniformizado.
Nos vídeos de treinamentos que vi, o armário americano dava a impressão de que seria capaz de ganhar a guerra do Afeganistão no tapa. Em seguida, iria dar uns corretivos no Gaddafi. Aposto que é só levar aquele trinca-espinhas para o local do bafafá (caso alguém ainda saiba o significado da palavra “bafafá”).
Quando o gongo soou no domingo, foi só porrada no Shogun que, diga-se, era campeão de sua categoria e lutou bravamente. Acontece que o Jones tem braços longos e grossos, capazes de formar um arco como, digamos, o do Triunfo, de Paris. As mãos do bicho são dois pernis de porco adulto e os pés – pelo que vi – são dois Honda Civic.
Na segunda-feira não fui trabalhar. Não queria me tornar a bola, ou o Shogun, da vez. Voltei quieto, na terça, como quem não quer nada e falei menos ainda. O que a turma não sabe é que já vi muita briga de bar. Sei quando um cabra é da peste. Jones tem a fisionomia de uma biba que frequentava o famigerado bar Ponto 4, na Avenida da Consolação, em São Paulo. Numa noite, alguém teve a infeliz ideia de mexer com o cara. Para quê?
A bicha quebrou o bar inteiro – todas as cadeiras, mesas, estoque de bebidas, ladrilhos das paredes, manilhas dos banheiros e grande número da freguesia que não correu como eu. Testemunhei a demolição de longe, claro, mas com voyeurismo típico dos que presenciam os grandes desastres.
Quando olhei para o Jon Jones, lembrei-me logo da biba. Parecem irmãos gêmeos. Mas não serei eu a conferir o parentesco.
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