“Os mercados queriam Dilma fora, hoje percebem que não resolveu nada”, diz especialista

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Especialista disse que os mercados desconfiaram da Dilma desde sua eleição. Foto: EBC

Gaspard Estrada, diretor do Observatório Político da América Latina e do Caribe, da Sciences Po Paris, disse que “o que a crise revelou sobre o Brasil é que o País não estava sendo governado pelo Partido dos Trabalhadores, mas por uma aliança dirigida pelo PT”. Em entrevista à Revista Brasileiros, o cientista político disse que a presidenta “não tinha nenhuma margem de manobra porque ela precisava criar uma maioria no Parlamento, composto por políticos heterogêneos, com interesses divergentes”, explica. Pior, sua queda deveu-se em grande parte ao mercado financeiro.

Especialista em Brasil e México, Estrada comenta que as medidas de austeridade propostas pela presidenta Dilma a partir de 2014, para tentar tirar o País da crise econômica, foram bloqueadas pelo Congresso. Isso porque todos eles “estão de olho nas próximas eleições”: “Votar medidas de austeridade, como cortes nas despesas do Estado, teria consequências na vida dos brasileiros. Teria impacto direto sobre os votos deles”, justifica. Dilma pagou, então, “o custo dessas propostas de austeridade”, que explicam a impopularidade da presidenta.

Gaspard Estrada é diretor do Observatório. Foto: Divulgação
Gaspard Estrada é diretor do Observatório Político da América Latina e do Caribe em Paris. Foto: Divulgação

Ao explicar a situação vivida pelo País, Estrada comenta que a queda da presidenta está diretamente vinculada aos mercados financeiros. “Desde a posse da presidenta, em 2011, os mercados desconfiaram de sua política”, disse. “O Brasil é o País onde as taxas de juros são das mais altas do mundo e, quando a presidenta quis baixar os juros e passar de uma economia rentista a uma economia verdadeiramente de mercado, o setor bancário ficou muito insatisfeito”, explica.

De acordo com Estrada, quando a presidenta nomeou Joaquim Levy como ministro da Fazenda para satisfazê-los já era tarde demais. “Agora com Michel Temer no poder, os mercados se deram conta de que o impeachment não resolveu nada, pois a maioria parlamentar não vai aprovar medidas de austeridade”, disse.

Para o especialista, Temer terá dificuldade política. Além da falta de “legitimidade das urnas”, essa é a primeira vez que o PMDB terá de assumir o custo político de governar. “O partido sempre se escondeu atrás de um outro e os grampos revelados nos últimos dias mostram que ele enfrenta dificuldade para estar nesta posição”, explica. Estrada prevê semanas cada vez mais difíceis para o governo interino.


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