Tratar estupro sob ótica policial “é voltar à época das trevas”, dizem ativistas na Câmara

Erika Kokay, deputada do PT, foi quem segeriu a criação de um departamento na PF. Foto EBC
Erika Kokay, deputada do PT, criticou os mecanismos de ação da Polícia Federal. Foto EBC

Focar em iniciativas de segurança pública para combater a violência sexual no Brasil, ao mesmo tempo que se negligenciam ações no campo da educação, representa um grande retrocesso, afirmaram hoje (9) parlamentares, especialistas e ativistas que participaram de uma audiência pública sobre o assunto na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

“É voltar à época das trevas, quando a violência contra as mulheres era questão apenas de polícia”, disse a professora da USP Eleonora Menicucci, ex-ministra das Mulheres no governo da presidenta afastada Dilma Rousseff. Ela se referiu à iniciativa do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, de criar um departamento na Polícia Federal para cuidar de casos de violência contra a mulher. “Um puxadinho do puxadinho”, afirmou a professora.

Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), de quem partiu a iniciativa de organizar a audiência pública, a ideia de responder aos crimes contra mulher com a criação de um departamento na PF “reduz o estupro à ação de delinquentes e tira, assim, a possibilidade de ações que possam enfrentar o problema”.

“Ao individualizar, você também não consegue fazer com que a sociedade possa se livrar dessa cultura que não é só de estupro, mas lgbtfóbica e racista nesse país”, acrescentou a deputada petista.

A socióloga e assessora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) Jolúzia Batista destacou que “para além de medidas punitivas, deve-se ressaltar medidas educacionais e culturais. O termo cultura do estupro não enfraquece a responsabilidade do agressor, pelo contrário, tensiona a sociedade brasileira e o Estado a tomar uma posição que o enfrente. Precisamos recuperar políticas de educação e políticas de afirmação cultural que enfrentem a cultura do estupro, o machismo e a misoginia.”

Ao final da audiência realizada na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) entrou no plenário e pediu a palavra como líder de seu partido. Ele afirmou que “não existe cultura de estupro no Brasil”.


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