A terra do sol interior

As divindades Izanagi e Izanami desceram de Takamagahara, a planície dos céus, até uma imensa massa oceânica. Izanagi mergulhou sua lança na água e, ao levantá-la, derramou gotas que se solidificaram, formando as ilhas do Japão. As terras foram povoadas por deuses. Um deles era Amaterasu, deusa do sol, cujo neto Jimmu se tornaria o primeiro imperador do Japão.

Esse é o mito da criação do Japão, herdeiro de uma civilização que remonta ao século IV, quando o clã Yamato unificou os reinos sob um único imperador – a família imperial japonesa mantém-se de forma contínua desde então, a mais longa linha ininterrupta monárquica do mundo. No século VIII, o Japão, com cerca de 5 milhões de habitantes, já poderia ser considerado um Estado-nação em termos de fatores como unificação efetiva, governo centralizado, estratificação social, constituição escrita e um código legal. Na época, o país vivia sob forte influência da China e assimilou muito de sua cultura, como sua religião (budismo) e sua filosofia (confucionismo, que valoriza, entre outras coisas, a harmonia e o trabalho duro), além de colher inspiração para elaborar a sua própria escrita.
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Do século XII ao XIX, a nação foi dominada pelos xoguns, senhores feudais que surgiram com a ascensão da aristocracia militar, os samurais. Foi um xogum, Tokugawa Leyasu, que fez de Edo (atual Tóquio) a capital do país. Ele também foi o responsável por fechar a nação durante 250 anos para estrangeiros. O isolamento contribuiu para que o Japão se tornasse uma das sociedades mais homogêneas do mundo, do ponto de vista étnico e cultural.

O feudalismo terminou na Era Meiji (1868), período de grandes mudanças na história do país. É quando o Japão inicia a sua expansão e se firma como potência regional: vence a China na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), na qual disputava o controle da Coreia, e sai vitorioso na guerra contra a Rússia (1904-1905). Também participou das guerras mundiais. Na primeira, do lado dos aliados, entrou com o objetivo de apoderar-se das colônias alemãs no Oriente. Na segunda, aliou-se à Alemanha e à Itália, ocupando a Indochina francesa, o sudeste da Ásia e a maior parte do Pacífico Ocidental, o que gerou conflito com os Estados Unidos. Em resposta ao ataque surpresa japonês à base naval americana de Pearl Harbor, no Havaí (1941), os EUA jogam bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Mesmo devastado, o Japão consegue se reerguer. Atinge um crescimento notável no pós-guerra que se estende por três décadas consecutivas. Apesar da desaceleração da economia nos anos 1990, o país se mantém como uma grande potência – hoje, a terceira maior do mundo. Mesmo passando por crises, guerras e desastres naturais – 20% dos terremotos do planeta ocorrem no país, que fica no limite de, pelo menos, três placas tectônicas -, o Japão parece encontrar até mais forças quando tem de encarar as adversidades. Com uma sociedade e cultura únicas, que combina tradições milenares com avanços tecnológicos invejáveis, a nação desperta admiração e curiosidade. Foi com esse espírito que o fotógrafo Cristiano Mascaro, apreciador da filosofia japonesa e casado com Satiko, brasileira neta de japoneses, mergulhou no país. Ele conseguiu registrar as belas imagens que você acompanha neste ensaio e que serão reunidas em livro (veja página 70). As fotos foram realizadas durante 25 dias em Tóquio, em novembro de 2010. Quatro meses antes de o país enfrentar o maior terremoto de sua história milenar.


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