O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe) considera que policiais militares tentaram acobertar a ação de um colega que resultou na morte de um jovem em Ourinhos, interior paulista. Na madrugada da última quinta-feira (9), o policial Luis Paulo Izidoro disparou contra Brian Cristian Bueno da Silva, 22 anos, em uma abordagem a um veículo em que o rapaz era passageiro.
O conselho e a Ouvidoria das Polícias de São Paulo veem indícios de abuso na abordagem policial e nas ações posteriores, que teriam dificultado as investigações.
Segundo os outros quatro jovens que estavam no carro com Brian, eles voltavam de uma festa quando uma viatura policial deu ordem para que parassem. A ação policial foi motivada, de acordo com os depoimentos, pelo fato de Brian ter pego um dos cones que sinalizavam a via. Com a aproximação dos policiais, o rapaz teria largado o objeto. “Estava muito lento o trânsito. Ele enfiou a mão pela janela, pegou o cone e apoiou no chão”, relembra Fabrício Ferreira, 19 anos, motorista do veículo.
O soldado Izidoro se aproximou então, segundo os relatos, aos gritos. “Ele enfiou a mão pela janela do carro. Segurou assim na blusa [de Brian]”, contou Fabrício, fazendo um gesto de torção com o punho. “Mandando ele descer do carro e, daqui a pouco já foi o disparo. Não deu tempo de ninguém fazer nada.”
A bala atingiu o jovem na clavícula, próximo ao pescoço. De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal de Ourinhos, Brian morreu pela hemorragia decorrente da perfuração de um dos pulmões.
Atendimento pelo Samu
Depois do disparo, os policiais militares que acompanhavam a ocorrência pararam uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que trafegava na via. Segundo o boletim de ocorrência registrado pela equipe da unidade, os policiais exigiram que Brian fosse atendido, apesar de a equipe estar prestando socorro a um paciente em coma alcoólico, com suspeita de traumatismo craniano. Ainda de acordo com o relato da equipe do Samu, os policiais ameaçaram a médica, o motorista e a enfermeira de prisão em caso de descumprimento da ordem.
A médica Thais Alcolea contou em depoimento que no momento do socorro Brian já estava com um quadro de parada cardíaca. Devido as ameaças dos policiais, ela optou por remover o paciente que estava na ambulância e transferi-lo para uma unidade do Corpo de Bombeiros. Em seguida, a médica disse que tentou reanimar o rapaz baleado no local e durante o transporte para a Santa Casa de Ourinhos, mas não teve sucesso.
Após o jovem baleado ser levado pela ambulância, os policiais conduziram os outros quatro rapazes e o carro onde estavam para o batalhão da Polícia Militar da cidade, procedimento irregular, segundo o Ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves. “Não pode mexer no local dos fatos para que a ocorrência seja bem registrada e esclarecida. Se houve isso daí, já houve um erro na apuração naquele instante”, destacou.
Eliminação de provas
Segundo Neves, homicídios devem ser investigados prioritariamente pela Polícia Civil. Entretanto, o delegado Eduardo Doretto diz que quando chegou ao local com sua equipe não havia nada além de uma poça de sangue. “Nos deslocamos ao local dos fatos, que não apresentava ninguém, nenhum veículo, apenas uma grande mancha de material hematóide no flanco direito da via”, anotou o delegado no boletim de ocorrência.
Os jovens contam que ao chegarem ao batalhão foram interrogados por policiais militares. De acordo com Fabrício, o veículo onde estavam foi entregue ao fim do dia, lavado.
“A Polícia Militar não tem esse poder de levar para o batalhão, lavar o carro e entregar sem requisição nenhuma”, disse o relator da comissão de violência policial do Condepe, Luiz Carlos do Santos.
Segundo o conselheiro do Condepe Lúcio França, as câmeras de segurança que registravam o local do crime no momento da ocorrência foram levadas pelos policiais. “Eram imagens da rua onde dava para verificar o que tinha acontecido. Foram retiradas. Era uma prova importante daquele momento”, enfatizou. As ameaças para que Brian fosse levado na ambulância indicam, na avaliação do conselheiro, que os policiais prestaram um falso socorro apenas para remover o corpo do local.
Para Luiz Carlos dos Santos, a conduta dos militares configura uma série de abusos e irregularidades. Por isso, o conselho deve pedir a prisão preventiva do soldado Izidoro e dos outros policiais que participaram da ação.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública ainda não se manifestou.
*Com reportagem da Agência Brasil
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