“Na geração atual, não há qualquer dificuldade da mulher artista assumir o feminismo”

Feminismo nas artes - é mais fácil hoje: - foto: EBC
Feminismo nas artes – é mais fácil hoje: – foto: EBC

A relação entre o feminismo e os artistas visuais e como o tema é tratado no mercado brasileiro de arte foram debatidos no final da tarde de quarta-feira (29), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, no segundo encontro da série Diálogos sobre o Feminino. Aberto ao público e com entrada gratuita, o evento reuniu centenas de participantes em duas atrações, uma performance no saguão do centro cultural e uma mesa-redonda.

As questões de gênero nas artes visuais contemporâneas e sua relação com outras áreas de conhecimento constituem o tema central da série de encontros mensais, aberta no último dia 25 de maio. O ciclo teve origem em um debate sobre o mesmo tema, feito no início do ano no Centro Cultural Hélio Oiticica, também no Rio, que mostrou a necessidade de se ampliar o debate sobre a presença da mulher na arte.

De acordo com a pesquisadora em artes visuais e artista plástica Roberta Barros, uma das organizadoras do evento, o ciclo de debates busca questionar o mito de que não teria relevância o tema do feminismo na arte contemporânea no Brasil. “Ao contrário dos Estados Unidos, onde na década de 50 essa questão explodiu, em função de uma crítica que tinha cunhado uma história da arte destacando só os artistas homens, no Brasil temos duas instâncias de aferição historiográfica da presença da mulher na arte. No modernismo, com Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, e a partir dos anos 50, com as Lígias, Clark e Pape”, disse Roberta.

Segundo Roberta, no contexto atual do mercado de arte contemporânea, algumas mulheres artistas desfrutam de um reconhecimento  maior de que seus colegas homens, como é o caso de Adriana Varejão e de Beatriz Milhazes. Isto sem falar nas cifras alcançadas hoje, no mercado nacional e internacional, pelas obras de Lígia Clark e Lígia Pape.

“No entanto, as obras dessas artistas que são conhecidas e entram na historiografia da arte e nos leilões são trabalhos mais formalistas, que não discutem a questão de gênero”, disse Roberta, mediadora da mesa redonda Eu, Feminista?, que teve as participações da artista plástica Laura Lima e da professora Tatiana Roque, do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A pesquisadora considera que o cenário político brasileiro dos anos 60 e 70, marcado pela ditadura militar, contribuiu para que as artistas do período não tivessem condição de assumir a pauta feminista, ao contrário do que ocorria na mesma época nos Estados Unidos. “Já na geração atual, não há qualquer dificuldade da mulher artista visual assumir uma identidade feminista. Hoje, as redes sociais permitem às mulheres abraçarem com mais ênfase as pautas de gênero”, disse Roberta.

Na performance Entre as Formas Dissolvidas do Desejo, que abriu a segunda edição do ciclo, a artista visual Maíra Vaz Valente usou peças de roupa para provocar a interação entre o público. Maíra desenvolve desde 2006 seu trabalho em performances e mostras por todo o país, tendo participado em 2015 de três exposições em Portugal.

As próximas edições da série Diálogos com o Feminino, que tem patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Rouanet, serão nos dias 27 de julho, sobre o tema Corpo, Beleza e Política, e 24 de agosto, quando a questão do racismo e do machismo na arte será abordada no encontro intitulado Black is Beautiful.


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