Um em cinco bebês com zika não apresenta microcefalia

Um novo estudo sobre os danos produzidos pelo vírus zika no feto revelou que um em cada cinco bebês afetados pela infecção têm a circunferência da cabeça normal. Ou seja, eles não apresentam microcefalia, que é o critério diagnóstico atual válido no País para selecionar os casos suspeitos.

Feito por cientistas brasileiros e veiculado pela revista científica The Lancet, o estudo é maior revisão de casos até agora.

As conclusões  do trabalho indicam que a infecção pelo vírus Zika não pode ser diagnosticada com precisão em recém-nascidos exclusivamente considerando a presença de microcefalia (circunferência da cabeça menor do que 32 centímetros).

De acordo com o autor que liderou o estudo, Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, “nas gestações afetadas pela infecção por zika, alguns fetos terão complicações cerebrais e microcefalia, outros terão alterações cerebrais e perímetro cefálico normal e outros não serão afetados.”

A descoberta é extremamente importante e sugere que sinais e sintomas de anormalidades cerebrais, independentemente da circunferência da cabeça, devem também ser incluídos na triagem de critérios para detectar todos os recém-nascidos afetados. “O foco atual, sobre o rastreio microcefalia sozinho, é muito estreito “, disse Victora.

Como foi o estudo

O levantamento incluiu todos os casos suspeitos de microcefalia registrados no País até fevereiro (5.909) e, desse total, Victora e seus colegas revisaram 1.501 casos de crianças nascidas vivas (27%) que já haviam sido totalmente investigados. Eles foram divididos em cinco categorias de acordo com a certeza do diagnóstico de infecção Zika: definitiva, altamente provável, moderadamente provável, pouco provável e rejeitados (não considerados zika).

Cientistas brasileiros analisaram 1.501 casos e descobriram bebês com cabeça normal, mas com alterações neurológicas associadas ao zika. Foto: Ingimage. 
Cientistas brasileiros analisaram 1.501 casos e descobriram bebês com cabeça normal, mas com alterações neurológicas associadas ao zika. Foto: Ingimage.

A reavaliação mostrou que pelo menos 100 casos examinados apresentavam alterações neurológicas consistentes com os efeitos da infecção por zika, ainda que as crianças não apresentassem características de microcefalia. 

“Embora acreditemos que a subnotificação de casos de microcefalia é rara durante a epidemia, os recém-nascidos infectados com o vírus no final da gravidez podem passar despercebidos devido ao tamanho da sua cabeça estar dentro dos limites normais”, diz Victora. “Além disso, para um terço desses casos definitivos ou prováveis, ​​não havia história de erupção cutânea durante a gravidez.”

Os autores observam ainda que estes resultados devem ser considerados com cautela, particularmente por causa dos dados em falta, o que é inevitável quando se utiliza sistemas de vigilância de rotina. 

Mudança de critério para triagem

Para Victora, “um sistema de vigilância destinado a detectar todos os recém-nascidos afetados não deve apenas se concentrar em microcefalia e erupção cutânea durante a gravidez e deve ser revisto, e exame de todos os recém-nascidos durante as ondas epidêmicas devem ser considerados.”

Baseado nos resultados do estudo feito pelos cientistas brasileiros, o Ministério da Saúde estuda mudanças no protocolo de atendimento a bebês nascidos com danos possivelmente associados à infecção por zika. 
Segundo nota divulgada pela pasta, a revisão dos critérios poderá incluir alterações neurológicas e outros sintomas.

Atualmente, bebês com perímetro cefálico menor do que 32 centímetros são classificados como suspeitos de microcefalia por zika. Outro critério para suspeita é a mãe ter histórico de vermelhidão na pele em algum momento dos nove meses de gravidez.


Pode haver uma segunda onda de zika? 

Os autores do trabalho publicado na revista The Lancet evidenciam que o pico da epidemia de microcefalia ocorreu no final de 2015, cerca de 6 a 9 meses mais tarde do que o pico da epidemia do vírus zika no nordeste do Brasil. 

Desde então, o número de novos casos notificados de microcefalia têm diminuído de forma constante. Pelo fato de que uma nova onda de infecção pelo vírus Zika ter ocorrido no Sudeste do Brasil no início de 2016, o pesquisador Victora prevê que poderá haver uma segunda onda de microcefalia no final do ano.

 


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