Foi interessante fazer um referendo para decidir sobre a saída ou permanência do Reino Unido na União Europeia? Depende. Segundo estudo da professora Mirta Galesic, do Instituto de Santa Fé (EUA), junto com seus colegas do Instituto Max Planck em Berlim, se há o entendimento de que existe uma escolha certa ou errada a ser seguida, pequenos grupos tendem a tomar as decisões mais acertadas.
A pesquisa de Galesic, publicada no American Psychological Association Journal Decision, sugere que grandes multidões nem sempre produzem decisões mais sábias, principalmente quando elas versam sobre questões qualitativas tais como “qual candidato vai ganhar a eleição” ou “qual diagnóstico se encaixa nos sintomas do paciente?”.
No estudo, pesquisadores calcularam a probabilidade de diferentes grupos (com mais e menos pessoas) estarem corretos. Eles descobriram que, em situações semelhantes a um painel de especialistas, como o diagnóstico de um paciente, pequenos grupos são melhores. O achado foi controlado para que outros fatores não influíssem no resultado –como a presença de um líder no grupo.
Grupos moderados, em torno de cinco a sete membros, escolhidos aleatoriamente, têm mais probabilidade de superar as multidões nesse tipo de decisão. De fato, na sociedade, são essas pequenas aglomerações que costumam tomar decisões mais qualitativas -como a previsão do desemprego, do crescimento econômico, ou da eleição.
“Os resultados, é claro, não significam que devemos abandonar referendos em grande escala como Brexit e eleições nacionais”, disse Galesic, em nota sobre o estudo. “As escolhas entre as diferentes políticas e os candidatos muitas vezes não têm uma resposta certa e errada”.
Pessoas diferentes, diz a autora do estudo, simplesmente preferem coisas diferentes, e os resultados dessas decisões são complexas, com um espectro de consequências.
“Quando perguntamos quantas pessoas devemos ter neste grupo, o impulso geralmente é a criação de um grupo com a maior quantidade de pessoas possível porque todo mundo ouve falar da sabedoria das multidões “, acrescenta Galesic. “Mas, em muitas situações do mundo real, é melhor escolher um grupo de tamanho moderado. “
Por que algumas eleições têm resultados inesperados?
O estudo também analisa questões interessantes, como o porquê de, apesar de todas as previsões apontarem para a vitória de Al Gore, em 2000, George W. Bush foi quem ganhou as eleições nos Estados Unidos naquele período. Isso ocorre, segundo a análise, porque as pistas usadas para entender a situação política podem não corresponder à realidade.
A pesquisa explica que analistas utilizam uma série de pistas para prever um resultado (opiniões de especialistas, reportagens na imprensa, pesquisas de opinião), só que, não raro, essas pistas podem não ser um retrato da realidade e servem para “enganarem” um resultado real.
Em algumas circunstâncias, como alianças feitas entre a imprensa e determinados setores da sociedade, pode haver um pacto oculto para apoiar esse ou aquele candidato. Nesse caso, a imprensa, a imprensa vira uma “pista” ruim sobre o que de fato está acontecendo. Quando analistas a utilizam como uma pista, assim, pode ser que o resultado seja o oposto ao apontado pela mídia.
Outro ponto citado pelo estudo é que, mesmo que essas pistas não sejam “enganadoras”, elas podem não ser a melhor para medir aquela situação particular ou pode ser que o ambiente tenha mudado entre o momento da previsão e o período em que o resultado foi efetivamente observado.
Fonte: American Psychological Association Journal Decision. Smaller Crowds Outperform Larger Crowds and Individuals in Realistic Task Conditions.
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