O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, afirmou que o governo Michel Temer deve adotar “medidas muito duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas para equilibrar as contas públicas. Ele citou como exemplo a França e afirmou que lá é permitido trabalhar até 80 horas por semana: “Aqui temos 44 horas de trabalho semanal, as centrais sindicais tentam passar esse número para 40 e a França passou para 80”.
Robson Andrade citou dados errados: a jornada de trabalho na França atualmente é de 35 horas por semana, com limite máximo de 48 horas por semana, incluindo horas extras. Ela só poderia chegar a 60 horas por semana (e nunca a 80) em casos excepcionais e com o aval das autoridades trabalhistas.
Na prática, a proposta de elevar a jornada de trabalho para 80 horas semanais no Brasil significaria um retorno à época da escravidão: 80 horas divididas por seis dias significam 13,3 horas por dia. No Brasil, os escravos trabalhavam de 14 a 18 horas por dia. Segundo o historiador Jacob Gorender, autor de O Escravismo Colonial, os escravos brasileiros trabalhavam de 14 a 18 horas por dia na época da colheita do café, mas a carga diminuía nas demais épocas do ano. No sul dos Estados Unidos, na cultura do algodão, a jornada era de 15 a 16 horas.
A declaração de Robson Andrade foi feita após uma reunião com o presidente interino, Michel Temer, e cerca de 100 empresários do Comitê de Líderes da MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação). Temer deixou o evento sem falar com a imprensa.
Segundo Andrade, “é claro que a iniciativa privada está ansiosa para ver medidas duras, difíceis de serem apresentadas. Por exemplo, a questão da Previdência Social. Tem de haver mudanças na Previdência Social. Caso contrário, não teremos no Brasil um futuro promissor”, acrescentou. Robson Andrade defendeu também a implementação de reformas trabalhistas. Para ele, o empresariado está “ansioso” para que essas mudanças sejam apresentadas “no menor tempo possível”.
Enquanto propõe “medidas duras” e “difíceis” contra trabalhadores e aposentados, o presidente da CNI rejeita qualquer aumento de impostos sobre as empresas: “Somos totalmente contra qualquer aumento de imposto. O Brasil tem muito espaço para reduzir custos e ganhar eficiência para melhorar a máquina pública antes de pensar em qualquer aumento de carga tributária. Acho que seria ineficaz e resultaria, neste momento, na redução das receitas, uma vez que as empresas estão em uma situação muito difícil”.
Após a repercussão negativa de suas declarações, a CNI divulgou nota na qual afirmou que Robson Braga de Andrade não defendeu o aumento da jornada para 80 horas: “A CNI tem profundo respeito pelos trabalhadores brasileiros e pelos direitos constitucionais”, disse o texto.
Deixe um comentário