Após ver Temer, empresário defende jornada de trabalho do tempo da escravidão

Foto: Divulgação
“Presentes de Natal”, 1827, aquarela de Debret, Coleção Museus Castro Maya, 15,5 cm x 21,7 cm

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, afirmou que o governo Michel Temer deve adotar “medidas muito duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas para equilibrar as contas públicas. Ele citou como exemplo a França e afirmou que lá é permitido trabalhar até 80 horas por semana: “Aqui temos 44 horas de trabalho semanal, as centrais sindicais tentam passar esse número para 40 e a França passou para 80”.

Robson Andrade citou dados errados: a jornada de trabalho na França atualmente é de 35 horas por semana, com limite máximo de 48 horas por semana, incluindo horas extras. Ela só poderia chegar a 60 horas por semana (e nunca a 80) em casos excepcionais e com o aval das autoridades trabalhistas.

Na prática, a proposta de elevar a jornada de trabalho para 80 horas semanais no Brasil significaria um retorno à época da escravidão: 80 horas divididas por seis dias significam 13,3 horas por dia. No Brasil, os escravos trabalhavam de 14 a 18 horas por dia. Segundo o historiador Jacob Gorender, autor de O Escravismo Colonial, os escravos brasileiros trabalhavam de 14 a 18 horas por dia na época da colheita do café, mas a carga diminuía nas demais épocas do ano. No sul dos Estados Unidos, na cultura do algodão, a jornada era de 15 a 16 horas. 

A declaração de Robson Andrade foi feita após uma reunião com o presidente interino, Michel Temer, e cerca de 100 empresários do Comitê de Líderes da MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação). Temer deixou o evento sem falar com a imprensa.

Segundo Andrade, “é claro que a iniciativa privada está ansiosa para ver medidas duras, difíceis de serem apresentadas. Por exemplo, a questão da Previdência Social. Tem de haver mudanças na Previdência Social. Caso contrário, não teremos no Brasil um futuro promissor”, acrescentou. Robson Andrade defendeu também a implementação de reformas trabalhistas. Para ele, o empresariado está “ansioso” para que essas mudanças sejam apresentadas “no menor tempo possível”.

Enquanto propõe “medidas duras” e “difíceis” contra trabalhadores e aposentados, o presidente da CNI rejeita qualquer aumento de impostos sobre as empresas: “Somos totalmente contra qualquer aumento de imposto. O Brasil tem muito espaço para reduzir custos e ganhar eficiência para melhorar a máquina pública antes de pensar em qualquer aumento de carga tributária. Acho que seria ineficaz e resultaria, neste momento, na redução das receitas, uma vez que as empresas estão em uma situação muito difícil”.

Após a repercussão negativa de suas declarações, a CNI divulgou nota na qual afirmou que Robson Braga de Andrade não defendeu o aumento da jornada para 80 horas: “A CNI tem profundo respeito pelos trabalhadores brasileiros e pelos direitos constitucionais”, disse o texto. 


Comentários

Uma resposta para “Após ver Temer, empresário defende jornada de trabalho do tempo da escravidão”

  1. Avatar de Heloisa Coimbra de Souza
    Heloisa Coimbra de Souza

    Não tem vergonha na cara, não? Vá pra p*ta que o p*riu.

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