Zero de conduta

Se é, de fato, missão do artista questionar os (des)caminhos da humanidade, Cinthia Marcelle se lança inteira nesta empreitada. Ela não apenas critica paradigmas, como constata a falência de modelos. Em Zero de Conduta, sua primeira mostra individual na Galeria Vermelho, a artista segue sua jornada em busca de uma sociedade ainda por ser reinventada. Ela é simplesmente definitiva em Sobre este mesmo mundo, obra que, aliás, já havia apresentado na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010: uma lousa de nove metros de comprimento, mal apagada, com vestígios de inscrições diversas, restos de pó de giz e montes dele repousando no chão. O que Cinthia Marcelle faz com essa obra é demolir, pela raiz do emblemático sistema de aprendizagem, os padrões em vigor.

Zero de Conduta nasceu de reflexões da artista sobre a crise econômico-financeira de 2008; no seu entender, momento oportuno de abertura para um novo mundo que pode vir a surgir. Como trabalha com vários suportes, a exemplo de sua geração, os dípticos fotográficos em exposição seguem a mesma linha de raciocínio. Narram reveladores processos de desarranjos, por meio de personagens comuns em momentos desconcertantes, em ações e cenários inidentificáveis. O Cosmopolita, de 2011, díptico de 100 x 100, e O Colecionador, com 100 x 160, sugerem situações deixadas pela crise, de forma a colocar em xeque as relações de capital e trabalho. Com a instalação Economia, Cinthia propõe um “tempo” congelado, à espera de um desfecho, assim como Temporário, em que ela recria uma grande loja norteamericana de automóveis flagelada por intempéries e pelo mercado.
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Nascida em Belo Horizonte, onde cursou a Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, a artista também se expressa por meio de vídeos. Exemplo é Cruzada, um trabalho cujo impacto é proposital. Em um cruzamento de estradas de terra no meio do “nada”, um grupo de dezesseis músicos, quatro em cada traçado, trava um duelo musical confuso e desencontrado, que, depois, por conta de um rearranjo entre os integrantes, culmina em total harmonia. Como as outras obras, trata-se, igualmente, de um trabalho revelador das preocupações dessa artista que já trabalhou como residente na África do Sul e que, entre outros prêmios, levou o International Prize for Performance, de 2006, e o da Bienal de Lyon, de 2007.


Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350
Até 21 de maio
De terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 17h



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