Você deve ter lido, nesta semana, sobre o empresário, diretor da Fiesp desde 1983, que deve mais de R$ 6 bilhões ao Fisco.
Laodsé de Abreu Duarte, que tem nome de filósofo chinês, naturalmente contesta a dívida. Mas a própria nota oficial da Fiesp, emitida para se desvincular do indigitado caloteiro, afirma que a entidade “condena a excessiva carga tributária do País”, da mesma forma como “”é intransigente no combate à sonegação e à corrupção” – (atenção, advogados – aqui, a expressão “indigitado caloteiro” quer dizer “apontado como caloteiro”, afirmação que se justifica porque ele é cobrado publicamente pelo Tesouro).
Mas Laodsé – que não é o autor do Tao Te Ching –, tem reagido com serenidade oriental à última leva de notícias que dá conta de sua espantosa relação com a lei.
Ele pediu demissão de seu cargo na Fiesp e distribuiu notas afirmando que não pode ser chamado de caloteiro porque seu caso ainda não cumpriu toda a tramitação possível na Justiça.
Não é o mesmo tratamento que ele e seus colegas da poderosa associação da indústria recomendam, por exemplo, a personagens acusados seletivamente pela imprensa nos recentes escândalos de corrupção.
Foi, aliás, sob patrocínio da Fiesp que se desenvolveu o processo de golpe que interrompeu o mandato da presidente da República eleita em 2014.
Mas o caso do sr. Laodsé é dessas histórias que ganham as manchetes e logo se desvanecem, porque a mídia tradicional não quer discutir a questão central: o que mais prejudica o Brasil – a carga tributária que é paga pelos empresários e cidadãos honestos ou o buraco provocado no Tesouro pelos sonegadores?
Aliás, será que existe uma relação entre as alíquotas de impostos e taxas e a expectativa de arrecadação desidratada pela sonegação histórica?
A Federação do Comércio do Estado de São Paulo publica há anos um painel que atualiza minuto a minuto o peso dos tributos, mas nunca se preocupou em divulgar a carga da sonegação sobre os que cumprem suas obrigações tributárias.
O noticiário sobre o sr. Laodsé tem o mérito de levantar essa cortina: os valores devidos pelos sonegadores ao governo federal passam do trilhão de reais.
Nem mesmo os jornalistas especializados conseguem vislumbrar o que seja essa soma, sem consultar outras referências. É preciso observar, por exemplo, que apenas o valor cobrado do sr. Laodsé supera as dívidas de 18 Estados brasileiros, entre eles a Bahia e Pernambuco.
Se conseguisse recuperar 20% do total devido pelos grandes sonegadores, o Tesouro poderia cobrir o déficit público que, entre outras coisas, foi usado como justificativa para o afastamento de Dilma Rousseff, e poderia financiar todos os programas sociais que estão sendo ameaçados de corte pelo governo enterino.
Bom, tudo isso pode ser apreendido com pouco esforço na leitura do conjunto de notícias disponível na mídia em geral desde o dia 20 de junho, quando o site conjur.com.br publicou uma grande análise sobre o calote trilionário dos arautos da moralidade pública.
Mas o que você dificilmente vai ficar sabendo pelos jornais hegemônicos é que centenas de empresários são clientes de duas dezenas de escritórios de advocacia especializados em driblar as obrigações fiscais.
Um dos mais lustrosos entre esses consultores jurídicos foi preso há dez anos e ainda responde a processo, por distribuir uma cartilha ensinando a esconder dinheiro em empresas offshore.
Sabe aquela lista chamada de Panama Papers? Estão quase todos lá, mas a mídia tradicional não tem interesse em identificá-los.
E você, midiota em busca da perfeição, foi fazer uma selfie com o pato amarelo da Fiesp.
Sabe quem é o pato, não sabe?
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