Santa Casa de SP reduz cirurgias e internações e ganha prêmio de R$ 1 milhão

Passados exatamente dois anos do auge da pior crise de sua história, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo continua a sofrer dificuldades que, em última instância, podem levar a seu fechamento ou, pelo menos, suspensão de serviços como o atendimento emergencial. No dia 22 de julho de 2014, o antigo provedor da entidade, o advogado Kalil Abdalla, fechou o pronto-socorro e suspendeu as cirurgias eletivas e os exames laboratoriais, afetando pelo menos 6 mil pessoas. Para se ter ideia, só no atendimento de emergência são atendidas cerca de 1,2 pessoas por dia.  

Em meio à falta de ítens essenciais como remédios antitérmicos ou esparadrapos, o hospital viveu nas últimas semanas uma rotina lamentável que denuncia o agravamento de uma situação que se arrasta há meses. Na segunda-feira 18, por exemplo, cirurgias não urgentes (as chamadas cirurgias eletivas) foram canceladas porque não havia material suficiente para a realização de todas as que estavam previstas. Consultas agendadas e outros procedimentos estão sendo adiados, sem que os pacientes consigam saber ao certo quando e se serão atendidos. Segundo os médicos, ainda que uma parte das restrições no atendimento ocorra por falta de materiais, há também uma diretriz de diminuir procedimentos (de menor gravidade) para economizar.

Em 2014, o pronto-socorro ficou fechado por 28 horas. Foto: Divulgação
Em 2014, o pronto-socorro ficou fechado por 28 horas. Foto: Divulgação

O agravamento dos sinais da crise levou a uma nova mobilização de médicos, enfermeiros, funcionários, alunos, residentes e outros funcionários da instituição. Na manhã desta quarta-feira (20), eles se reuniram com dois membros da mesa administrativa da Irmandade da Santa Casa, que é a gestora da instituição, para expor as suas preocupações. Para a comunidade da Santa Casa, se a situação atual não for revertida rapidamente, há grandes chances de que  a continuidade do atendimento se torne inviável.

O que querem médicos e funcionários 

No encontro, os médicos discutiram a necessidade de deixar claro aos pacientes que não são eles que estão sonegando atendimento. Um dos motivos é o receio de serem processados por negativa de socorro ou mesmo erro médico. Por isso, eles reivindicam que a direção do hospital emita um comunicado oficial, a ser afixado nos ambulatórios e em algumas outras áreas do hospital, para explicar que a decisão de restringir procedimentos e internações parte da direção. 

Mais uma pauta da agenda aprovada é a participação de um grupo de médicos, na condição de ouvintes, nas reuniões da mesa diretora com a intenção de melhorar a comunicação. A comunidade de médicos, funcionários e alunos quer também encontros semanais com a provedoria para obter informações mais precisas sobre a real situação do hospital.

O fornecimento desses dados é fundamental para que os profissionais conheçam com clareza as razões dos cortes e suspensão de atendimentos. Além disso, eles querem ser informados do que será feito de agora em diante, principalmente se a instituição não equacionar de onde virá o dinheiro para continuar funcionando.

Os médicos pretendem formar equipes específicas para organizar as reivindicações e planejar ações em áreas distintas – manifestações, condições de trabalho, comunicação com a mídia, relacionamento com a direção e cuidados com a residência médica.

É a primeira vez, desde a eleição do atual provedor da instituição, em maio de 2015, que a comunidade se organiza para fazer uma nova pauta de reivindicações. O pediatra José Luiz Setúbal assumiu a direção da Santa Casa em meio a uma grave crise financeira e institucional que teve como ponto máximo a renúncia do seu antecessor, o advogado Kalil Rocha Abdalla, investigado pelo Ministério Público Estadual por indícios de superfaturamento em contrato e nepotismo, entre outras irregularidades.

Fontes escassas 

O início da gestão de Setúbal foi marcado por doses de remédio amargo. Cerca de 1500 funcionários foram demitidos, entre eles pouco mais de 150 médicos, e mudanças foram feitas no gerenciamento das compras e do estoque, o calcanhar de aquiles de todo hospital. Os planos da nova gestão incluíam também dimensionar melhor os atendimentos. Para isso, foi implantado um sistema de prontuário eletrônico. Logo na primeira semana, o sistema revelou que, para dar conta da demanda, os ambulatórios atendiam 30% mais pacientes do que era computado, na forma de encaixes.O dado confirma a importância da instituição para a população e o esforço de médicos e funcionários. 

Outra parte crucial do projeto de resgate da Santa Casa contempla a aprovação de um empréstimo de R$ 360 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, com taxa de 15,5% ao ano. A grande esperança da instituição, porém, permanece sem resposta do BNDES. A explicação, até agora, recai sobre a transição do governo interino de Michel Temer. 

Em entrevista exclusiva à Brasileiros pouco antes de sua eleição, Setúbal disse que a Santa Casa só teria salvação se contasse com o comprometimento de vários setores da sociedade, incluindo o governo.
Até agora, porém, não foram autorizados empréstimos solicitados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, recursos considerados estratégicos para a instituição continuar funcionando e dar andamento ao seu processo de saneamento financeiro.

Além da dificuldade para obter empréstimo (que no caso do BNDES será para pagar bancos e fornecedores), a Santa Casa enfrenta uma drástica redução nas doações de pessoas físicas e jurídicas, que sempre representaram uma das suas melhores fontes de recursos. Para a comunidade, a redução nas doações é uma consequência da falta de credibilidade na instituição fomentada pelas denúncias que recaíram sobre a administração do ex-provedor Kalil Abdalla. Esse sentimento não se dissipou nem mesmo com a entrada de Setúbal ou com a implantação de todas as medidas apontadas pelo Ministério Público para sanear a instituição. 

Diante desse cenário nada positivo, uma das preocupações dos médicos da Santa Casa de São Paulo diz respeito ao que fazer com os pacientes que não conseguem o atendimento necessário. A instituição é um dos principais hospitais da cidade e tradicionalmente costuma receber muitos doentes encaminhados de outros estabelecimentos – até porque, como hospital-escola, possui serviços de referência no atendimento de várias patologias. Neste momento, porém, não apresenta condições mínimas de acolhimento. Por isso, os profissionais entendem que, em breve, talvez seja necessário criar um sistema de redirecionamento dos pacientes para outros hospitais públicos.  “Na nossa luta para manter a Santa Casa funcionando, já fizemos até vaquinha para comprar material como esparadrapo e gaze, mas isso não resolverá a gravidade da situação que enfrentamos”, disse à Saúde!Brasileiros um médico que preferiu não se identificar. “Precisamos dar um destino aos pacientes que aguardam algumas cirurgias e tratamentos. Ou achamos condições para atendê-los ou assumimos que não dá mais e encaminhamos para outros lugares.”


Santa Casa de SP ganha o prêmio mensal de R$ 1 milhão da Nota Fiscal. Na entrega, governador diz que foi uma feliz coincidência

Mais parece milagre. Conforme informou o Portal do governo do São Paulo, a Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo foi a ganhadora do primeiro prêmio mensal de R$ 1 milhão da Nota Fiscal Paulista. O governador Geraldo Alckmin recebeu nesta quinta-feira (21) os ganhadores da 92ª extração do programa para a entrega dos cheques simbólicos de R$ 1 milhão, R$ 500 mil e R$ 100 mil.

Os valores de R$ 500 mil foram sorteados para duas pessoas físicas. Já a Casa Transitória André Luiz, de Barretos, foi sorteada com um prêmio de R$ 100 mil.

O provedor Setúbal (à direita) recebe cheque simbólico do governador Alckmin. Foto: Dilvugação
O provedor  José Luiz Setúbal (à dir.) recebeu na quinta-feira (21)  cheque simbólico do governador Alckmin. Dinheiro será investido no atendimento.  Foto: Divulgação

O provedor da Santa Casa, José Luiz Setúbal, e Maria Dulce Cardenuto, diretora executiva, receberam o cheque simbólico das mãos do governador. Setúbal disse que o valor deverá ser utilizado integralmente para investimento nos serviços de atendimento do hospital. “Ficamos muito felizes em entregar esse prêmio, que por uma feliz coincidência foi para a Santa Casa de São Paulo, que está precisando bastante”, declarou Alckmin. 

Segundo a nota, participaram da extração de julho os consumidores cadastrados que efetuaram compras no mês de março de 2016 e solicitaram a inclusão do CPF/CNPJ no documento fiscal. O resultado está disponível no site da Nota Fiscal Paulista.  


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