O empresariado não percebe que a destruição do País é prejudicial a ele mesmo

Aliado de Temer, Skaf organizou encontro com empresários apoiadores do impeachment - Foto: EBC
Aliado de Temer, Skaf organizou encontro com empresários apoiadores do impeachment – Foto: EBC

É com um tiro no próprio pé que o empresariado nacional adere a “grupos fossilizados de oligarquias” e “abandona qualquer esboço de projeto para o País”. É assim que a ex-editora-executiva do jornal Folha de S.Paulo (de 2000 a 2010), Eleonora Lucena, inicia seu artigo na edição desta terça-feira (26) no jornal em que critica a adesão da elite ao desmonte do Estado e a abertura de setores estratégicos aos colegas estrangeiros. Sem líderes, o empresariado “deixa-se levar pela miragem da lógica mundial financista e imediatista, que detesta a democracia”.

Lucena lembra que essa não é a primeira vez que a elite nacional abandona o Brasil em nome do lucro. No século 19, demorou para abrir mão da escravidão. No século 20, tentou impedir a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1932, mas regozijou-se com a industrialização. Quando a Guerra Fria pediu um lado, ela se bandeou para o lado de estrangeiro, parcelas de militares e uma “classe média mergulhada no obscurantismo”.

“Os últimos anos de crescimento e ascensão social mostraram ser possível ganhar quando os pobres entram em cena e o País flerta com o desenvolvimento”, escreve. “Foram tempos de grande rentabilidade. A política de juros altos, excrescência mundial, manteve as benesses do rentismo.”

Mas aí 2012 chegou, houve um “ensaio tímido para mexer nisso, houve gritaria”. Assim que o Planalto, ainda sob Dilma Rousseff, se rendeu ao mercado, os neoliberais reorganizaram suas forças e avançaram sobre uma esquerda dividida e envergonhada com os escândalos de corrupção.

Nem assim venceu as eleições. Mas atraiu a grande parcela da sociedade alarmada com a crise econômica e erros do governo e, mais uma vez, “os empresários pularam do barco governista, que os acolhera com subsídios”.

Com o pedido de impeachment, voltou à moda “a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde, desmanche de conquistas trabalhistas.”

Para a jornalista o plano é simples: “esmagar” pobres e “extinguir ideias de independência”. “Previdência, Petrobras, SUS, tudo é implodido com a conversa de que não há dinheiro. Para os juros, contudo, sempre há.”

Enquanto a esquerda precisa se reinventar para construir um projeto nacional, defende, a novidade vem das ruas com gritos de “Fora, Temer!”. Quanto às elites: “O empresariado parece não perceber que a destruição do País é prejudicial a ele mesmo”.


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