O Armory Show é tão importante para Nova York como a Art Basel Miami Beach o é para Miami. O prefeito Bloomberg abriu a feira, saudando os visitantes para a cidade das cidades e, talvez por extensão, para a feira das feiras. (Para uma visão geral da fundação do Armory Show, em 1994, bem como uma lista de sete outras feiras de arte em Nova York durante a semana de artes não-oficial, veja o The Art Newspaper, The Armory Show Edition, 4-6 March 2011. Um número recorde de pessoas (quase 65 mil) compareceu ao evento durante a sua apresentação de cinco dias nos Piers 92 e 94. Embora ambos os cais tivessem galerias consagradas e poderosas (blue-chip), o Pier 92 enfocava arte moderna e o 94, arte contemporânea. Mais de 275 galerias – de Chicago a Seul, Helsinque a Joanesburgo, Toronto a Amsterdã, Melbourne a São Francisco, Madri a Japão – ofereceram uma multiplicidade de expressões, mídias e preços atraentes para colecionadores veteranos e novatos, um público de arte, críticos, artistas e acadêmicos. O componente educacional incluiu visitas a estúdios de artistas, coleções públicas e particulares, pré-estreias de museus e recepções em consulados. O salão Open Forum organizou conversas entre diretores, curadores e artistas para promover a compreensão e o diálogo sobre práticas artísticas contemporâneas.
Focus: A América Latina foi destaque neste ano (no ano passado, o foco foi a Alemanha). No Pier 94, uma seção especial apresentou 18 galerias de seis países latinoamericanos: Argentina, Brasil, Colômbia, México, Peru e Venezuela. Focus galvanizou o interesse em termos de visitantes e vendas. As galerias de fora do Focus especializadas nesta área, como a Sicardi (Houston), Nohra Haime, Cecilia de Torres, Ltd., Mary-Anne Martin/Fine Art, Leon Tovar (todas em Nova York), Nina Menocal (México) e Galeria Luciana Brito (São Paulo), merecem destaque por seu compromisso com a excelência ao estabelecerem a importância de artistas latinoamericanos no mundo da arte. Houve também um aumento no número desses artistas em galerias não-especializadas.
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De uma perspectiva histórica da arte e curatorial, o Armory Show me deu a oportunidade de ver um trabalho excepcional no cânone modernista expandido, de me manter a par dos novos trabalhos de artistas consagrados, de familiarizar-me com os desconhecidos, e de desfrutar surpresas visuais de ambos os grupos. Com isso em mente, vamos a um rápido passeio.
Em sua maioria, a arte exibida no Pier 92 possuía a qualidade de obra de museu. A Galeria Marlborough apresentou Fernando Botero e Magdalena Abakanowicz, cujas diversas origens têm desempenhado papéis muito específicos em seu desenvolvimento temático. A Oriol Galeria d’Art (Barcelona) exibiu Port constructif aux taches blanches, de Joaquín Torres García, 1930. A cena de rua agora icônica fora exibida pela primeira vez na Galeria de Arte Archer M. Huntington, da Universidade do Texas em Austin, em 1974, quando o interesse no artista construtivista mal principiava nesse país. Shinichi Maruyama (Galeria Bruce Silverstein, Nova York) lança tinta sumi no ar, numa ação performática capturada em diferentes momentos, em duas requintadas impressões com tintas de arquivo. Keith Sonnier foi um dos primeiros artistas a usar luz em suas esculturas, na década de 1960. Sua maravilhosa escultura de parede de neon abstrata na Galeria JGM (Paris) nos lembra a importância do neon em obras contemporâneas. A obra Sem Título, de Marie Orensanz, 1987, com desenho e colagem em mármore, na Sicardi Gallery, foi uma descoberta. O trabalho da artista conceitual, do final da década de 1960 e da de 1970, recebe agora merecida atenção. A Hirschl & Adler Modern exibiu um conjunto de sete belas esculturas em mármore de Elizabeth Turk, a única artista na feira que, sem dúvida alguma, tem a nomeação da Fundação Macarthur da Barnett & Annalee Newman (2010). Sua obra esculpida a mão promove suas explorações com linhas e vazios em meio atemporal.
Enquanto nosso passeio prossegue no Pier 94, deparamo-nos com trabalhos interessantes em galerias como a Sean Kelly (Nova York), Victoria Miro (Londres), Hauser & Wirth (Zurique/Nova York/Londres), White Cube (Londres), Daniel Templon (Paris) e Galleria Continua (San Gimignano/Beijing). A ampla gama de galerias de lugares menos conhecidos brindou os visitantes com novas descobertas. Por exemplo, a Galleria Franco Noero, de Turim, apresentou uma exibição solo das esculturas e colagens de Gabriel Kuri feitas com matérias recicláveis. A The Armory incumbiu Kuri, mexicano que reside na Bélgica, de criar a identidade visual da feira. O lote de sementes de girassóis individualmente confeccionadas Kui Hua Zi, de Ai Wei Wei, 2008-2010, na Galeria Urs Meile (Lucerne/Beijing), relembra as milhares agora expostas na Tate Modern. A Galeria Micheline Szwajcer (Antuérpia) exibiu o vídeo do belga David Claerbout, The Quiet Shore, 2011, produzido em Dinard, na região francesa da Bretanha, onde sequências de fotos (stop-motion) da praia aliadas à ausência de som, evocam lugar e tempo distantes.
Diversas galerias no Focus: A América Latina capturou minha atenção. As fotografias O que é arte? Para que serve?, de Paulo Bruscky, na Galeria Nara Roesler, são exemplos de suas ações sociais, baseadas em performances que criticam o conceito de arte. Pioneiro da arte postal, o artista está atraindo interesse da crítica fora do Brasil. Ignacio Liprandi exibiu Peso Molecular, de Adriana Bustos (de uma série sobre a rede de cocaína), uma linda foto de uma fração de cocaína separando-se de compostos de adulteração num teste caseiro utilizado pelos traficantes para verificar sua pureza. A Galeria Faría – Fábregas apresentou The Long Tail/512 Drinks, de Emilio Chapela, que propõe novas possibilidades de abstração geométrica, uma direção no centro da atenção da crítica e do patronage. Centenas de quadrados feitos ao fotografar bebidas com uma Lente Macro, fora de foco, produzem uma ampla gama de cores.
Não podemos encerrar este passeio no Pier 94, sem notar The Armory Fence, de Iván Navarro, uma escultura de neon ocupando cerca de 230 metros quadrados, bloqueando a entrada pública ao que teria sido o espaço tradicional da Galeria Paul Kasmin. Essa construção especial criou uma série de enigmas (atraente/proibitivo; protetor/aberto) e é suscetível de ser lembrada como uma obra de assinatura da feira deste ano.
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