Uma vida dedicada às artes

Meu primeiro contato com a arte foi muito próximo e intenso. Fui nora do Lasar Segall e, quando ele faleceu, minha sogra Jenny fez várias exposições de sua obra, mundo afora. Fui acompanhá-la em algumas viagens e, de repente, me vi ajudando a montar essas exposições, e descobri que era capaz de fazer o trabalho com muita facilidade. Fui gostando cada vez mais e fiz várias exposições fora do País, até que me estabeleci definitivamente no Brasil. Nessa época, já havia me formado em Sociologia Política e pensei: “Bem, estou com meu diploma na mão e agora preciso trabalhar”. Fui parar em uma área estritamente comercial, fazendo feiras industriais. Pouco antes disso, eu tinha feito o curso de História da Arte no Museu de Arte de São Paulo (MASP), com o professor Pietro Maria Bardi. Quando ele soube que eu estava trabalhando em feiras, mandou me chamar e me convidou, com aquele sotaque carregado dele, para trabalhar no museu: “Menina, precisamos muito de gente como você por aqui”. Trabalhar no MASP foi uma experiência muito rica, pois eu fazia de tudo. Ajudava na captação de recursos, na comunicação, e até na montagem das exposições. Foram quatro anos que serviram como uma grande escola para mim.

Tive que abandonar o trabalho no MASP pois estava grávida de minha última filha, Myra, e tinha outros três filhos, Berta, Lúcia e Oscar Segall, de meu primeiro casamento; também considero minha filha a Janka Babenco, do segundo casamento. O professor Bardi não gostava muito da ideia de ter uma grávida trabalhando com ele, e depois que a Myra nasceu, eu decidi abrir uma galeria, em 1973, junto com a Mônica Filgueiras, minha sócia. Demos o nome de Gabinete de Arte à galeria e nos especializamos em artes gráficas em papel – desenhos, gravuras e afins. Em paralelo a isso, fui convidada pela Rede Globo para dirigir a Galeria Arte Global, um espaço cultural fundado por eles. Em princípio, recusei o convite pois tinha recém aberto a Gabinete, mas eles insistiram. Disseram que tinham certeza de que eu era a pessoa mais indicada para tocar a instituição, e que eu saberia dividir as coisas. Decidi aceitar e fiquei lá até 1979. Sai da Arte Global e, por volta de 1980, comecei a lidar com esculturas. Passei a trabalhar com artistas como a Cristina Rezende, o Tunga e o Carlos Fajardo. Com a morte do Sergio Camargo, em 1990, fiquei responsável pelo seu espólio e, há cerca de um mês, abri esse novo espaço, para poder abrigar toda a sua obra em nosso subsolo e receber novos artistas.

Minha experiência no mercado internacional é bem consistente. Sempre tive grande contato com as galerias de fora e frequentei muitas feiras internacionais. Trabalho com artistas que moram fora – Piza, Cruz-Diez, Soto, Frida Baranek e Maria-Carmen Perlingeiro -, além de brasileiros que vivem aqui e que represento fora do País, provendo seus trabalhos em galerias e museus estrangeiros. Temos boas relações na França, nos Estados Unidos e na Espanha, e temos pela frente mais uma SP-Arte, a FIAC (Foire Internationale d’Art Contemporain, da França) e, depois, vamos à Art Basel Miami. Sou privilegiada, pois não estou fazendo isso há pouco tempo. Conquistamos grande respeitabilidade no mercado externo. Acho que um dos fatores para esse respeito é o fato de representar artistas que são todos escolhidos por mim, e eu procuro sempre ter muita coerência e unidade em tudo o que faço. Tenho, há décadas, uma linha de trabalho muito bem definida e ter esse norte sempre foi muito importante. Quando tive a iniciativa de fazer o IAC (Instituto de Artes Contemporâneas), idealizei um espaço onde pudesse acolher artistas e o tipo de arte contemporânea que tenho defendido desde o início de minha carreira. Não por acaso, após a morte do Sergio Camargo, trouxe para o IAC artistas com os quais ele se dava muito bem, grandes amigos seus, e que tinham relações estéticas muito próximas.

Com todas essas revoluções que sofremos hoje, acho que o mercado está se desenvolvendo e se tornando muito melhor. Antigamente, comunicação e transporte eram grandes problemas. Hoje, conseguimos negociar melhor, ter mais proximidade com outros mercados, e também podemos transportar com muito mais rapidez e segurança. Coisas que são relativamente novas para mim, que estou há mais de 40 anos nessa, e que certamente inovaram o mercado de arte. Hoje, ele é muito mais global e ágil. Também são evidentes as grandes evoluções do mercado interno. A criação e o êxito da SP-Arte, por exemplo, foi muito importante para consolidar as mudanças que o mercado de arte sofreu nos últimos anos. Participo desde a primeira edição da feira e só vejo aumentar seu progresso e respeitabilidade.


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