O drama da campeã belga Marieke Vervoort, que disputará os Jogos Paralímpicos

Os Jogos Paralímpicos de 2016 só começam no dia 7 de setembro, após o término dos jogos de 5 a 21 de agosto. Mas, recentemente, uma atleta paralímpica ganhou destaque antecipado. Durante a apresentação do time belga à imprensa, a campeã Marieke Vervoort, de 37 anos, símbolo de persistência e garra, fez duas revelações que repercutiram mundialmente – a primeira é a sua decisão de interromper a carreira brilhante após a competição no Rio. A outra é que pensa seriamente em se submeter à eutanásia (a interrupção voluntária da vida), prática consentida na Bélgica desde 2002 a doentes incuráveis que enfrentam grande sofrimento físico e psíquico. A documentação necessária para obter o aval do estado já estaria, inclusive, pronta. 

A atleta Marieke, que anunciou desejo de encerrar a carreira e praticar eutanásia legal.  Foto: Facebook
A atleta Marieke, que anunciou desejo de encerrar a carreira e praticar eutanásia legal. Foto: Facebook

Mas quais motivos levariam Marieke – alguém que treina para superar seus limites e está acostumada a enfrentar desafios – a pensar em colocar um ponto final na carreira e na vida? Ela falou do que sente em uma entrevista publicada pelo jornal francês Le Parisien. A atleta convive com uma doença crônica degenerativa e progressiva que paralisou suas pernas, por exemplo, desde os 14 anos de idade. Antes do diagnóstico, em 2008, ela já estava apaixonada pelo esporte e havia conquistado duas vezes o título de campeã mundial de Triathlon. Sua decisão foi continuar treinando e lutar por novas vitórias. No ano passado, conquistou ouro na corrida de cadeira de rodas em 100 metros, 200 metros e 400 metros, em Doha, no Qatar, tornando-se tricampeã mundial. Em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres, ganhou o título na disputa dos 100 metros e prata nos 200 metros.

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Marieke praticava esportes antes de ser diagnosticada com doença degenerativa. Foto: Divulgação

  “O Rio é o meu último desejo. Quero terminar minha carreira no pódio. Estou treinando duro, mesmo que tenha que lutar contra a minha doença noite e dia. É muito difícil perceber, ano após ano, aquilo que já não posso fazer”, disse. A atleta já testou muitos esportes adaptados, como basquete, mergulho, triatlo, esgrima e golfe. Nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, irá competir nas provas de 100 e 400 metros rasos em cadeira de rodas. “Há uma chance de medalha, mas vai ser muito difícil porque a concorrência é muito forte”, disse Wielemie, apelido que ganhou dos belgas e que, numa tradução livre, significa algo como “a roda e eu.”

Marieke, à direita, durante a apresentacão da equipe paralímpica belga à imprensa. Foto: Divulgação
Com seu cachorro aos pés, durante a apresentacão da equipe paralímpica belga à imprensa. Foto: Divulgação

À radio RTV-TVI, a atleta disse que diariamente enfrenta o agravamento da doença com a qual convive. “Todos os dias, sofro. Algumas noites, não durmo mais de 10 minutos e depois, tenho que ir treinar“, disse. Ela contou a jornalistas franceses que várias vezes por dia acorda de desmaios com seu cachorro lambendo o rosto. “E eu tenho que continuar treinando. Para outros, esta prática é normal. “

Tudo muda no momento da disputa. “Quando me sento na cadeira de rodas de competição, tudo desaparece. Expulso todos os pensamentos sombrios, esmurro o medo, a tristeza, o sofrimento, a frustração. É assim que ganho as medalhas de ouro. Todo mundo me vê com a medalha, mas ninguém vê o lado obscuro.”


A eutanásia no Brasil
Para saber mais, leia em Saúde!Brasileiros o artigo A terminalidade da vida e as relações entre paciente, família, médicos e estado, do advogado Itamar Ciochetti.

 

 


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