Altar

No filme Os Incompreendidos, de François Truffaut, o jovem Antoine Doinel reza para a imagem de seu ídolo pagão, o escritor Honoré de Balzac, instalada num altar improvisado. Pensando nisso, resolvemos perguntar a artistas e personagens do mundo cultural que autor, livro, filme, show, disco, peça, série de TV, performance ou espetáculo eles poriam num altar. Para inaugurar a seção, convidamos Maria Ribeiro, atriz, apresentadora, cineasta e, mais recentemente, também escritora – suas crônicas para a revista TPM foram compiladas no livro 38 e Meio. Atualmente ela escreve para o jornal O Globo.

Cena do filme "Todas as mulheres do mundo". Foto: Divulgação
Cena do filme “Todas as mulheres do mundo”. Foto: Divulgação

“Esse é meu filme preferido [Todas as mulheres do mundo], primeiro porque a questão mais importante da humanidade é o amor. Como diz o Domingos de Oliveira, diretor do filme, depois do quinto uísque você pode falar com qualquer pessoa, com o cara que mudou o mundo, que ele vai falar da mulher que amou. É um filme absolutamente corajoso, porque foi realizado numa época (1966) em que o Cinema Novo estava bombando: tinha o Glauber Rocha com Deus e o Diabo na Terra do Sol, Nélson Pereira dos Santos com Vidas Secas, etc. E o Domingos falando de amor. Foi muito revolucionário. E, independentemente da causa que representa, o filme em si é muito bom, muito moderno e atual, porque mistura diversas linguagens; começa com o Flávio Migliaccio citando a última frase do O Inimigo do Povo, do Ibsen: ‘O homem mais forte é o que está mais só’. E fala de questões absolutamente filosóficas, por exemplo: como você vai escolher uma pessoa e abrir mão de todas as outras? E a Leila Diniz, aquela deusa grega da beleza, um frescor! Acho genial que o Domingos finja que a obra dele não é séria. É um filme absolutamente poético, lírico, com música clássica à la Truffaut e ao mesmo tempo é um filme de entretenimento, que eu vejo para ficar feliz no fim, como as comédias românticas com Hugh Grant e Julia Roberts. E tem o lado afetivo: Domingos é meu melhor amigo, trabalhei com ele oito vezes. Dos 20 aos 30, acho que trabalhei com ele todos os anos. E fiz o documentário Domingos. É a pessoa mais importante da minha vida profissional, um cara que eu amo.”


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