Exposição reúne 70 obras do pintor e escultor Ernesto De Fiori

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“Paisagem”, óleo sobre tela. Foto: Divulgação

A trajetória do artista italiano Ernesto De Fiori renderia um filme histórico. Nascido em 1885 na Itália, De Fiori tornou-se escultor em Paris, onde realizou suas primeiras obras e integrou o grupo seleto de artistas que conviviam com o pintor Henri Matisse. Na Primeira Guerra Mundial, aliou-se ao exército alemão e atuou como correspondente para um jornal italiano. Dentre as décadas de 1920 e 30, adquiriu prestígio artístico, estabelecendo-se no mercado europeu. Porém, com a ascensão do nazifacismo, sua vida sofreu uma grande ruptura: o artista já consagrado decidiu sair da Europa por discordar do governo de Hitler. Em 1936, chegou ao Brasil, onde permaneceu o restante de sua vida.

Sua obra pode agora ser vista na exposição Ernesto di Fiori – Tensão e Harmonia, em cartaz na galeria Almeida e Dale em São Paulo. A exposição reúne 22 esculturas, 25 óleos, 9 guaches e 12 desenhos de De Fiori, cuja última grande mostra foi organizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 1992. Segundo a curadora Denise Mattar, o objetivo da exposição é divulgar a produção do italiano. “Há artistas consagrados que, por motivos quase inexplicáveis, não alcançaram o lugar que mereciam. Todo bom colecionador tem uma obra de De Fiori, porém o público geral ainda não o conhece”, afirma.

Na mostra é possível ter acesso as diversas facetas do artista que, no Brasil, aproximou-se do intelectual Mario de Andrade e do pintor Carlos Portinari. Famoso por ter realizado uma escultura da atriz alemã Marlene Dietrich, De Fiori também retratou personalidades da sociedade paulistana como Francisco Matarazzo. Em 1938, o artista foi apresentado ao ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, que o convidou a criar uma série de esculturas para o edifício do Ministério da Educação e Saúde. O episódio gerou polêmica, pois as obras não foram aceitas pelo governo, que alegou que as esculturas não dialogavam com o projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer e Lucio Costa.

Contrariado, o artista escreveu artigo no Estado de São Paulo no qual criticava o uso da escultura pelo poder, prática adotada pelos regimes fascistas na Europa, com os quais o Estado Novo de Vargas flertava abertamente. De Fiori, que viera ao Brasil para fugir da repressão nazista, só conseguiu opor-se abertamente ao nazismo em 1942, quando o país entrou na Guerra, junto aos Aliados. Ele criou obras que satirizavam a figura de Hitler e a situação política da Alemanha.

Além dos trabalhos com tom politizado, De Fiori produziu paisagens que retratavam a cidade de São Paulo e depois viriam a influenciar artistas como Alfredo Volpi e Mario Zanini. Nesta produção múltipla, é possível encontrar “uma dualidade entre a tensão e a harmonia”, como afirma a curadora. Avesso aos nacionalismos, De Fiori considerava-se um “artista europeu”. Faleceu em  1945, sem ver queda do nazifascismo que tanto combateu.

Serviço- Ernesto de Fiori – Tensão e harmonia
Até 30 de setembro
Galeria Almeida e Dale
Ru Caconde, 152 – Jardim Paulista, São Paulo – SP
(11) 3887-7130


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