A venda de 66% de Carcará, do bloco BM-S-8 do pré-sal na Baía de Santos, mostra que está se entregando muito mais que os anéis. Descobertas em 2012, essas são consideradas as reservas de mais alta qualidade da província petrolífera do pré-sal, as joias da coroa da Petrobras.
Apesar de corroída pela corrupção, há décadas, com os prejuízos recentes estimados, por baixo, em R$ 6 bilhões, nada explica que, para fortalecer o caixa da empresa, se vendam ativos preciosos em um momento de baixa de mercado. Hoje o barril do petróleo está cotado abaixo de
US$ 45. Em 2008 valia US$ 140. A produção vinda das reservas do pré-sal, que começaram a ser descobertas em 2007 e foram anunciadas com merecidas pompa e circunstância, passou dos 41 mil barris/dia em 2010 para 500 mil em 2014 e hoje beira o 1 milhão de barris/dia com um decrescente e elogiado custo de extração de US$ 8 por barril.
Não se justifica, portanto, a entrega dos anéis e também dos dedos como está sendo feito. Muito menos por um governo provisório.
Do próprio mercado vieram críticas aos US$ 2,5 bilhões pagos pela norueguesa Statoil.
“Acreditamos que foi um valor extremamente baixo para um campo tão premium como esse”, comparou a corretora Raymond James Financial ao jornal Valor Econômico.
Isso mostra o quão caro o País vai pagar, depois que governos que obtiveram sucesso ao reduzir a pobreza e alcançar o crescimento econômico, como os de Lula, caíram na esparrela da corrupção. Ou aqueles que capricharam no tombo, como os de Dilma, cuja incompetência culminou com a convocação do ministro Joaquim Levy e suas extemporâneas políticas neoliberais. Incluído no preço o afastamento da presidenta da República e um penoso e vergonhoso processo de impeachment. Um golpe sem tanques.
Muito além da desonestidade usada como pretexto para derrubá-lo, o governo foi pródigo em inépcia ao permitir a abertura de um flanco por onde entrou um cavalo de troia abarrotado de trapalhões movidos a desfaçatez, hipocrisia, ódio e preconceito. Um governo que não economizou em soberba nem em ingenuidade, esta digna de personagens de Monty Python que se recusam a ler a mensagem que diz: como derrubar governos, pendurada no pescoço do cavalo.
O golpe de 1964 – aquele com os tanques – que implantou uma ditadura civil-militar, como cada vez mais se sabe, foi financiado pelos Estados Unidos, via CIA, e pelo empresariado local. Esquerda e direita se digladiavam, então, em meio às ameaças nucleares de uma Guera Fria. Nela, Estados Unidos e União Soviética disputavam a conquista de aliados globais.
Hoje, direita e esquerda continuam a se enfrentar. Lutam pelo tamanho do Estado, menor para uns, maior para outros, com menos ou mais gastos sociais. Pelejam por governos que promovam mais ou menos privatizações. De um lado, os que são a favor de políticas neoliberais, aquelas que privilegiam mercados e foram fortalecidas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, no século passado. Nessa briga, os mercados de commodities, de ações, de moedas, mercados de energia, de armas disputam espaço com os Estados, manipulam governos, derrubam governos. E quando vitoriosos cobram. Hoje o Brasil assiste passivo ao desmonte de seu patrimônio maior – a Petrobras e suas reservas. A fabricação dos submarinos para proteger a Amazônia Azul – como é chamado o vasto pedaço do Atlântico onde estão as reservas – já foi devidamente suspensa.
Nos Estados Unidos, a direita radical tem um bom naco de seu financiamento vindo dos irmãos Charles e David Koch. Com sede no Kansas, EUA, o conglomerado Koch Industries tem interesses no mundo inteiro. Ocupa o segundo lugar no ranking das companhias privadas americanas e tem faturamento anual de US$ 100 bilhões. Seu negócio é basicamente petróleo e, nos Estados Unidos, eles têm refinarias nos estados do Texas, Alasca e Minnesota e quilômetros e quilômetros de tubulações para transportar seu óleo. Os irmãos estão entre os dez homens mais ricos do mundo com uma fortuna avaliada em US$ 14 bilhões cada um. Esse dinheiro também irriga os radicalismos de direita pelo resto do mundo, onde quer que estejam seus interesses. Adeptos ferrenhos da política ultraconservadora libertária, aquela que defende um Estado mínimo e um indivíduo máximo, eles são os grandes financiadores do Tea Party, nos EUA. David, um dos irmãos, concorreu à vice-presidência pelo Partido Libertário em 1980 e perdeu. Teve 1% dos votos. Os Koch são tão conservadores que nem os conservadores os respeitam. São por eles chamados de anarco-totalitários.
No Brasil, movimentos de direita que vão às ruas contra a esquerda, pelo impeachment, contra o comunismo(?!?!), pela volta dos militares, recebem doações dos Koch, via Students for Liberty ou Atlas Network, organizações libertárias abastecidas pelos irmãos.
A história da família Koch é contada pela jornalista Jane Mayer, da New Yorker, no livro Dark Money – The Hidden History of the Billionaires Behind the Rise of the Radical Right. Um livro fascinante sobre personagens bem longe disso.
O pai, Fred Chase Koch, engenheiro químico, inventou um processo para extrair gasolina do petróleo, mas não chegou a acordo com as grandes companhias americanas. Acabou sendo por elas processado, acusado de quebra de patentes. Com isso, o fundador dos negócios da família foi para a Europa, onde teve relações bastante próximas e lucrativas com Stalin e Hitler. Sim, Joseph Stalin, ditador da União Soviética, e Adolf Hitler, o próprio. Koch, o pai, se considerava um outsider lutando contra um sistema corrupto nos Estados Unidos. Depois de 15 anos de briga na Justiça, ganhou, finalmente, um milhão e meio de dólares ao descobrir que um dos juízes tinha sido subornado pelos seus oponentes.
Hoje, Charles e David, dois dos filhos de Fred, tocam a empresa depois de expulsar os outros dois irmãos do negócio, um deles sob a justificativa de ser homossexual. Charles e David odeiam governos.
A Statoil, a estatal norueguesa de petróleo que comprou Carcará por US$ 2,5 bilhões, tem parceria de fornecimento de gás com os irmãos Koch.
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