Material genético do Zika é encontrado na lágrima

Pesquisadores identificaram material genético do vírus Zika na lágrima e, com isso, descobriram que ele pode viver nos olhos. O estudo é da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e foi publicado na revista científica Cell Reports. Além de mostrar uma outra via de infecção possível pelo Zika, a pesquisa ajuda a explicar porque alguns pacientes infectados com o vírus desenvolvem doenças oculares como a uveíte, inflamação que pode levar à perda permanente da visão.

“Nosso estudo sugere que o olho pode ser um reservatório para o vírus Zika”, disse Michael S. Diamond, um dos autores do estudo. Cerca de um terço de todos os bebês infectados pelo vírus no útero apresentam disfunções oculares, como a inflamação do nervo óptico, danos na retina ou cegueira após o nascimento. Em adultos, o Zika pode causar conjuntivite – e, em casos raros, a uveíte.

Para determinar o efeito que a infecção por Zika tem no olho, pesquisadores infectaram camundongos adultos com uma forma do vírus e, sete dias depois, encontraram o organismo vivo nos olhos das cobaias. Essas observações confirmam que o Zika é capaz de chegar até os olhos.

Vírus Zika se espalhou muito rapidamente e cientistas no mundo inteiro estão tentando encontrar outras vias de transmissão, que não unicamente o Aedes. Foto: Robert Boston/Universidade de Washington
Vírus Zika se espalhou muito rapidamente e cientistas no mundo inteiro estão tentando encontrar  outras vias de transmissão além da picada do mosquito Aedes infectado. Foto: Robert Boston/Universidade de Washington

A infecção ocular levanta a possibilidade de que as pessoas podem adquirir a infecção por Zika através do contato com lágrimas de pessoas contaminadas pelo vírus. Os pesquisadores descobriram que as lágrimas de camundongos infectados continham RNA de Zika – o material genético do vírus.

No olho, o sistema imune é menos ativo para evitar que sua ação possa danificar tecidos oculares extremamente sensíveis. Consequentemente, algumas infecções persistem no olho depois de terem sido eliminadas do resto do corpo.

“Estamos planejando estudos em pessoas para descobrir se o vírus persiste na córnea ou em outros compartimentos do olho, porque isso teria implicações para o transplante de córnea”, disse Rajendra S. Apte, também autor do estudo. Outros vírus transmitidos pelo sangue, tais como o vírus da herpes, foram passados acidentalmente em transplantes. 

A ciência está estudando possíveis vias de transmissão por Zika porque o vírus se espalhou mais rapidamente do que seria esperado em modelos de disseminação unicamente pela picada dos mosquitos Aedes infectados. Mesmo que as lágrimas humanas não venham a ser infecciosas, a detecção dos pesquisadores de vírus no olho ainda tem benefícios práticos: um teste poderia ser feito para detectar a presença do vírus por meio da lágrima. 


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