O mês de agosto continua implacável para a política brasileira. No começo da tarde do dia 31, terminou o governo Dilma Rousseff. Por 61 votos a 20, o Senado decidiu entregar o que restava de seu mandato, pouco mais de dois anos, para seu vice.
Nesta foto, feita em 1/1/11, com expressões reveladoras e premonitórias, ambos, então empossados, sobem a rampa do Palácio do Planalto. Agora, cinco anos e oito meses depois, sai Dilma, assume Temer.
A presidenta perdeu a faixa depois de longo e tumultuado processo, deflagrado pela manifestação de junho de 2013, que reivindicava ônibus de graça e fez aflorar tudo de pior que o brasileiro empurrava para baixo do tapete: o preconceito, o racismo e muito ódio. E com isso instalou-se a cultura da intolerância.
Nos últimos nove penosos meses, nos palcos do Legislativo e do Judiciário, desenhou-se o petit finale. Em um julgamento declaradamente político, Dilma foi condenada, pelo chamado conjunto da obra, sem a condição constitucional de ter cometido crime de responsabilidade, segundo o próprio Ministério Público. O cenário de presidencialismo com tempero parlamentarista e recheio de insensatez e desfaçatez foi aplaudido por boa parte da mídia daqui que torceu como hooligans. Já a internacional – de The New York Times a The Guardian, de Le Monde a Libération, e até os mais insuspeitos Clarín e La Nación – antecipa a História e evita aplausos.
Mais insuspeito ainda, Joaquim Barbosa, o regente do mensalão no STF, manifestou-se: “Não acompanhei nada desse patético espetáculo que foi o ‘impeachment tabajara’ de Dilma Rousseff. Mais patética ainda foi a primeira entrevista do novo presidente do Brasil, Michel Temer”, prosseguiu. “O homem parece acreditar piamente que terá o respeito e a estima dos brasileiros pelo fato de agora ser presidente. Engana-se”, escreveu o hoje aposentado Barbosa. “É tão embaraçoso! De repente, forças políticas altamente conservadoras tomaram o Brasil. Tomaram tudo! Dominam o Congresso. Cercam o novo presidente (um político que pode ser comparado aos velhos ‘caudilhos’ latino-americanos)”, escreveu ele em seu Twitter em português, inglês e francês.
Barbosa não está sozinho.
Temer foi vaiado na Olimpíada, no desfile de 7 de Setembro e, num crescendo, na abertura da Paralimpíada. Fora Temer virou bordão. Recém-empossado, o presidente viajou para a China, o bordão virou piada e daí passou a verdade. Segundo a correspondente do programa Impacto Econômico da Telesur, Camila Sánchez, ele assim foi recebido e apresentado publicamente por um empresário chinês: “Welcome, Mr. Fora Temer”.
O impeachment de Dilma vai para os arquivos de agosto junto com seu concorrente nas eleições de 2015, Eduardo Campos, que morreu no dia 13 de agosto, exatos dez anos depois do avô Miguel Arraes, como ele, ex-governador de Pernambuco. Getúlio Vargas suicidou-se no dia 24, em 1954; em 1961, no dia 25, renunciou Jânio Quadros; e em 1976, no dia 22 de agosto, morreu Juscelino.
Em 1969, Costa e Silva abandonou o poder devido a uma trombose, também no dia 31 de agosto. Ele foi substituído por uma trinca de militares que, meses depois, entronou Médici, de triste memória, assim como Costa e Silva.
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