Startups refletem a crise hídrica e adotam inovação para gerir consumo consciente

Crescentes dados de uma eminente crise hídrica global têm impulsionado organizações e empreendedores ao redor do mundo a criarem negócios na tentativa de endereçar o problema.

Segundo o último relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Água, o planeta enfrentará um déficit de água de 40% até 2030, a menos que seja melhorada drasticamente a gestão do recurso.

No Brasil, onde regiões urbanas têm visto o racionamento de água se tornar rotina, propostas de repensar o uso da água surgem de soluções distintas, desde a redução do recurso a partir da descarga sanitária até a plantação de alimentos no quintal ou varanda de casa.

As startups Piipee Soluções e a Noocity Ecologia Urbana são exemplos de empresas que criaram soluções que resultam na economia direta da água. Ambas foram selecionadas para a segunda edição do Braskem Labs, programa de apoio à inovação e ao empreendedorismo social promovido pela petroquímica em parceria com a Endeavor, agência global de promoção do empreendedorismo. A seguir, conheça as soluções desenvolvidas pelas startups.


Não dê descarga

Ezequiel Vedana da Rosa deixou de lado uma carreira no comércio exterior para tentar responder a uma simples pergunta que lhe saltou à mente em 2010: por que usamos tanta água para fazer xixi? Desde então, o empreendedor vem concentrando esforços para evitar desperdícios de água em uma de nossas atividades mais rotineiras.

A busca envolveu testes empíricos com produtos de limpeza encontrados nas prateleiras do supermercado e, depois de muita tentativa e erro, Vedana e a sócia e co-fundadora da Piipee Soluções, Ariane Tamara da Rosa, chegaram a um produto que hoje é aprovado pela Anvisa e se encontra no mercado.

O Piipee atua nas características físico-químicas da urina, conseguindo higienizar a bacia sanitária sem utilizar água - Foto: Divulgação
O Piipee atua nas características físico-químicas da urina, conseguindo higienizar a bacia sanitária sem utilizar água – Foto: Divulgação

Batizado de Piipee, o produto pode ser facilmente instalado em privadas e mictórios.  Em vez de recorrer à descarga tradicional, o usuário aciona o dispositivo que libera uma composição química biodegradável que atua nas características físico-químicas da urina, conseguindo remover o odor e a coloração e higienizar a bacia sanitária sem utilizar água. O resultado é uma economia de cerca de 80% de água.

Instalada em Bento Gonçalves, RS, a startup segue agora com planos para baratear a produção e facilitar o acesso ao Piipee nas prateleiras de supermercados. Mesmo já atendendo o consumidor final e empresas, o objetivo agora é aumentar a produção do produto para que o impacto da solução também gere economias de água em maior escala.    

Para Vedana, outro ganho do Piipee é promover um uso mais consciente da água: “A grande vantagem é que o usuário se conscientiza ao usar água. As pessoas acabam consumindo muita água, seja no chuveiro, seja escovando os dentes ou lavando a louça e, ao usar o Piipee, elas acabam percebendo o quanto deixam de gastar o recurso e começam a controlar melhor o uso. Acredito que essa reflexão é proporcionada também pelo uso da solução”.

Agricultura urbana

Já a startup luso-brasileira Noocity Ecologia Urbana desenvolveu um módulo para hortas urbanas de baixa manutenção, que além de proporcionar o cultivo de orgânicos em cidades, poupa água ao usar um sistema de sub-irrigação inteligente.

Com a premissa de que qualquer espaço pode dar origem a uma horta, a startup criou uma solução para “agricultores urbanos”. Com ela, é possível cultivar plantas, frutos, vegetais e ervas medicinais em varandas, sacadas, coberturas de prédios ou pátios.

Ao usar sistema que irriga a plantação por baixo, a Noocity Growbed consegue economizar até 80% de água - Foto: Divulgação
Ao usar sistema que irriga a plantação por baixo, a Noocity Growbed consegue economizar até 80% de água – Foto: Divulgação

A iniciativa dos sócios Pedro Monteiro, Leonor Babo, José Ruivo e Rafael Miranda foi reconhecida também pelo Braskem Labs e participa do programa de mentorias da petroquímica, que visa acelerar o desenvolvimento dos projetos selecionados e sua disruptura no mercado.  

A startup nasceu na cidade do Porto, em Portugal, e começou sua operação no Brasil em 2015.

Um dos principais produtos é a Noocity Growbed, uma espécie de cama para plantações que o próprio usuário monta. O sistema irriga a plantação por baixo, na altura de suas raízes, algo que, segundo Laís Andrade, diretora comercial da Noocity, consegue economizar até 80% de água uma vez que o método consegue ampliar o intervalo das regas para três semanas.

“No cultivo tradicional, a rega é feita por cima. Grande parte da água fica, então, na superfície e nas folhas das plantas, e ela acaba evaporando e não atingindo as raízes, que é a parte mais importante. Com a subirrigação, otimizamos o uso da água, atingindo a parte em que ela precisa estar”, resume Laís.

Laís explica que a Noocity tem como um de seus propósitos incentivar a produção orgânica de alimentos em casa, restaurantes e até mesmo em escolas e também tem caráter educativo. A relação com a própria comida pode ter outro impacto quando as pessoas veem o seu cultivo.

“O sistema facilita muito a vida de quem quer cultivar. Ao mesmo tempo, o módulo pode ser montado em qualquer lugar, as pessoas não precisam fazer uma obraou instalar um sistema de irrigação. Evita então todo esse trabalho”, explica Laís.

Além de oferecer o módulo, a startup também conta com manuais simplificados e visuais de como cuidar das hortas.

A ideia é que o produto possa ser produzido, eventualmente, em escala industrial. Vale ressaltar que a agricultura é o setor que, segundo a ONU, mais consome água do mundo – 70% de toda a água disponível no mundo é utilizada para irrigação. No Brasil, esse índice chega a 72%.


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