Filósofo Francis Wolff abre edição do Ciclo Mutações

Francis Wolff - Foto: Wiki Commons
Francis Wolff – Foto: Wiki Commons

Enquanto a 30ª Edição do Ciclo Mutações tem por missão rememorar e atualizar as temáticas tratadas em realizações passadas, o filósofo francês Francis Wolff ficou incumbido de desenvolver uma reflexão sobre um assunto: a amizade. O próprio Wolff traz a justificativa para tal abertura: “Para abrir um ciclo consagrado à rememoração e à revisitação dos ciclos organizados por Adauto Novaes, eu gostaria de testemunhar a força de uma amizade de mais de duas décadas que me liga a ele, lembrando como os pensadores da Antiguidade se defrontaram com essa potência singular que nos vincula aos outros, nossos semelhantes: nossos amigos”. 

Para as palestras de Marilena Chauí (Os sentidos da paixão – A liberdade: afastar e combater as paixões tristes) e Maria Rita Kehl (O desejo – A depressão e o desejo saciado), nos dias 14 e 16/9, respectivamente, a procura já ultrapassou a capacidade do auditório. Em 15/9 (quinta-feira), o filósofo João Carlos Salles apresenta o “O olhar (O olho e a História)”, trazendo o papel da percepção individual na construção do fato histórico.

 Na semana seguinte, o historiador Marcelo Jasmim falará sobre “Tempo e História”, aprofundando a temática histórica em teor que confronta o pragmatismo do tempo e a complexidade das ciências humanas. Na sequência, dia 23/9, a palestra de Antonio Cicero sobre ‘Artepensamento’ já tem todas as vagas preenchidas antecipadamente.

Nos 30 anos do Ciclo Mutações, mais de 800 ensaios trouxeram temas como as paixões, o olhar, o desejo, a política, a ética, a civilização e a barbárie. O evento deste ano conta com 24 conferencistas: Francis Wolff, Marilena Chauí, João Carlos Salles, Maria Rita Kehl, Marcelo Jasmin, Antonio Cicero, Pascal Dibie, Oswaldo Giacoia Junior, David Lapoujade, Guilherme Wisnik, Jean-Michel Besnier, Newton Bignotto, Eugênio Bucci, José Miguel Wisnik, Marcelo Coelho, Jean-Pierre Dupuy, Frédéric Gros, Luís Alberto Oliveira, Pedro Duarte, Renato Lessa, Vladimir Safatle, Olgária Matos e Jorge Coli.

 As demais conferências ocorrerão de 14 de setembro a 4 de novembro no Auditório do Sesc Vila Mariana, sempre às quartas, quintas e sextas-feiras, às 10h30.Os ingressos custam de R$ 6 a R$ 20 por palestra e devem ser feitos por meio do Portal Sesc SP (bit.ly/Muta30anos)ou nas Centrais de Atendimento de todas as Unidades do Sesc SP.

 

Confira os temas das conferências programadas para São Paulo:

 

14/9 – Os sentidos da paixão (A liberdade: afastar e combater as paixões tristes) / Marilena Chauí    
A alegria fortalece o corpo e a mente, de modo a conduzir da passividade à atividade. A tristeza enfraquece e subjuga às forças exteriores. Eis por que afastar e combater a tristeza é condição necessária para a liberdade.(vagas esgotadas)

15/9 – O olhar (O Olho e a História) / João Carlos Salles             
Sentir, perceber, ver, desejar, lembrar, ter a intenção, notar aspectos, interpretar etc. Tudo isso é cifrado pelo saber de um sujeito afirmado em primeira pessoa do singular, um sujeito que, na maioria das vezes, vê significações e nota aspectos, que, ao invés de resultarem de um sujeito pré-constituído, estabelecem seu lugar e o constituem. Um sujeito que realiza performances, que segue regras e, enfim, incorpora os sucessos e fracassos à determinação do significado de cada uma das operações subjetivas.

16/9 – O desejo (A depressão e o desejo saciado) / Maria Rita Kehl    
Trata-se de articular a noção de desejo a um dos grandes enigmas do século 21: o do aumento das depressões em um mundo em que as pessoas são assoladas por objetos, ofertas, imagens, sonhos prontos. A depressão é o desejo saciado.(vagas esgotadas)

22/9 – Tempo e História / Marcelo Jasmin         

Quando se acreditava que o tempo era o da repetição ou o da circularidade, a história teve a função de ensinar por meio de exemplos, guiando os seres humanos no presente de incertezas, dando-lhes alguma segurança pela narrativa das experiências de seus antepassados, vitoriosos ou fracassados. Quando se concebeu o tempo como uma linha infinita pela qual escorria uma mudança que deixava o passado para trás, a história foi alçada ao patamar de ciência da humanidade, ganhou unidade ontológica, direção e significado, sendo, então, responsável por indicar os caminhos para um futuro por vezes redentor.

23/9 – Artepensamento / Antonio Cicero          
De fato, a palavra artepensamento, ao fundir os vocábulos arte e pensamento, propicia inesgotáveis discussões sobre as relações entre o pensamento e a arte, ou entre os diferentes modos de pensamento e as diferentes espécies de arte. Com certeza, toda arte, como toda atividade humana, emprega pensamento. Será, porém, que devemos ir mais longe e afirmar, com alguns pensadores, que a arte é um modo de pensamento, ou que as diferentes espécies de arte constituem diferentes modos de pensamento?(vagas esgotadas)

28/9 – A Condição Humana / Pedro Duarte       
Parte essencial da condição humana está em que somos capazes de alterá-la. Os homens são aqueles para os quais a condição de sua existência jamais é um dado definitivo. Rigorosamente falando, então, nem mesmo há uma parte da condição humana que seja essencial. Ela é toda sempre histórica, aberta. É herdada, sim, mas também criada a partir do que se herda. Nós, contemporâneos, elevamos tal poder de criação ao mais alto cume já conhecido no relevo do tempo, mas agora tememos a eventual queda. Pois, se a condição humana é aberta, ela está sempre em risco. “Viver é perigoso”, como escreveu Guimarães Rosa.

29/9 – A Crise da Razão / Oswaldo Giacoia Júnior          
O excedente pulsional constitutivo da existência humana só pode ser estabilizado por meio de instituições, o que significa que o homem é o animal produtor de suas condições de existência – que se dão nas dimensões permanentemente cambiantes da história e da cultura.Nesses momentos de crise, como os de hoje, que estão sempre situados no limiar de grandes transformações históricas, a razão obstina-se na busca de conceitos capazes de proporcionar referenciais para a orientação. É necessário, antes de tudo, compreender e situar-se em meio à própria desestabilização – o que provoca o fenômeno que o filósofo Reinhart Kosellek denominou de “batalha semântica para definir, manter ou impor posições políticas e sociais em virtude de definições”.

30/9 – A Invenção das Crenças (Uma Antropologia da Crença) / Renato Lessa 
Crenças são, além de mapas cognitivos e práticos orientados para a ação, sedes das sensações mais fundas de certeza. É no abrigo da crença – e não no cotejamento com a materialidade das coisas – que as sensações epistêmicas de verdade são usufruídas. “Crer na verdade”, nesse sentido, é uma condição necessária para que o sujeito a vivencie como tal, como caução necessária à convicção.

5/10 – Civilização e Barbárie (Nós, os Bárbaros) / Newton Bignotto     
Olhando para o cenário de destruição que se seguiu às experiências mais radicais e violentas no último século, pode-se dizer que se adentrou na época de uma nova barbárie e não naquela de uma nova civilização. Esse cenário de desolação foi descrito por Paul Valéry em “A Política do Espírito”, da seguinte maneira: “O mundo que dá o nome de progresso à sua tendência a uma precisão fatal busca unir as benesses da vida às vantagens da morte. Certa confusão reina ainda; mas em pouco tempo tudo se esclarecerá e veremos enfim surgir o milagre de uma sociedade animal, um perfeito e definitivo formigueiro”.

6/10 – O Homem Máquina (O Amor na Era Digital) / Francisco Bosco  
Com efeito, o estado passional é ainda um valor forte nos dias de hoje. Mas é duplamente depreciado, assim como o é a experiência do amor como construção de uma “perspectiva da diferença”, como o define Badiou: de um lado por um interesse subjetivo em esvaziar-lhes os riscos constitutivos, submetendo o imponderável de seu acontecimento a uma espécie de encontro arranjado moderno, uma mentalidade “securitária” (ainda Badiou), propiciada por sites de relacionamentos que, por meio da onipresente lógica do algoritmo contemporânea, prometem “o amor sem o acaso”, o match sem arestas; de outro, por uma sobrevalorização extrema do sexo, espécie de materialismo radical (no fundo, um narcisismo viciado e nada radical), facilitado por sua vez pelos aplicativos de pegação (Grindr, Tinder, Blendr, Happn etc.).

7/10 –Muito Além do Espetáculo (Muito Aquém da Superação) / Eugênio Bucci

Entendido por Guy Debord como nada menos do que o modo de produção capitalista em outra potência – “é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem” –, o espetáculo põe em cena o olhar como dispositivo-mestre. Não poderia ser diferente, pois o espetáculo não é meramente o império das imagens. “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”, escreve Debord no ensaio “A Sociedade do Espetáculo”, publicado originalmente na França, em maio de 1967. Ou seja, se é que você me entende, sem o olhar, nada feito.

13/10 – Poetas que pensaram o mundo (Drummond e a maquinação do mundo) / José Miguel Wisnik 

Em 1942, fundou-se a Vale do Rio Doce para exportar minério de ferro extraído de Itabira, terra natal de Drummond. Isso integrou os bastidores históricos de dois de seus poemas cruciais: Grande máquina e A máquina do mundo.

14/10 – O Silêncio dos Intelectuais (Entre o Silêncio e a Irrelevância) / Marcelo Coelho

Foi num sentido muito preciso que Jean-Paul Sartre se referiu ao intelectual como “aquele que se mete onde não é chamado”. Em suas conferências no Japão, em 1965, ele apontava a contradição existente entre o saber particular, técnico e especializado de um estudioso ou cientista, e a ideologia de uma classe – a classe burguesa – que não podia se acomodar a valores como a verdade e o interesse universal. Desse modo, surgia para Sartre a alternativa: ou o especialista se conforma na busca da verdade em seu campo específico de atuação – e, restringindo-se a isso, orgulha-se de não ser um intelectual –, ou nota o particularismo de sua ideologia, deixando o papel de simples “agente do saber prático” para se transformar num intelectual, “que se mete no que é de sua conta (em exterioridade: princípios que guiam sua vida, e interioridade: seu lugar vivido na sociedade) e de que os outros dizem que se mete no que não é de sua conta”.

19/10 – Novas Configurações do Mundo (Mundos Reconfigurados) / Luiz Alberto Oliveira

Verdadeira mutação, a reconfiguração do mundo é tal que impele pesquisadores e pensadores a novos conceitos e posturas para dar conta de indeterminações que partem de todos os lados e todos os níveis, do bacteriano ao atmosférico.

21/10 – Libertinos Libertários / Pascal Dibie     
A libertinagem não é mais aceita ou é muito mal aceita em pleno século 21. Todos lembram que a Europa do século 17 teve um retorno à ordem no domínio da moral e da religião, retorno que somente uma família de espírito combateu, pondo bem alto a independência do pensamento: os libertinos. A palavra pertence à linguagem da polêmica e à polissemia, e deve-se buscá-la do lado da liberdade. É verdade que há indisciplina, irreligião e mesmo um gostinho de devassidão quando esse adjetivo se fixa, mas há também – esobretudo – a ideia de um “ser apaixonado por independência, que odeia a coerção sem nunca se afastar da honestidade”.

26/10 – O Esquecimento da Política (As Novas Docilidades) / Frédéric Gros    
Hoje permanece a suspeita do esquecimento do político. E se a obediência do sujeito às leis não fosse de natureza propriamente política? Três principais modelos de obediência foram propostos, de maneira ou crítica, ou mistificadora, todos eles destacando uma ultrapassagem do político. Em primeiro lugar, a subordinação: o sujeito deve obedecer às decisões de seus dirigentes como a criança obedece aos pais, o ignorante ao perito, isto é, ao reconhecer a autoridade de quem dá ordens, supondo nele ciência e bondade. Em segundo lugar, a submissão: o sujeito obedece às leis porque elas lhe são impostas por uma classe dominante que o oprime e que tem a justiça e o exército a seu dispor. Obedece porque é prisioneiro de uma situação que o torna inferior, vítima de uma relação de forças dissimétrica. Por fim, o sujeito talvez obedeça por conformismo: faz como os outros, obedece como um autômato, um robô, uma máquina formatada.

27/10 – Congresso Internacional do Medo (Quando o Medo é Bom Conselheiro) / Jean-Pierre Dupuy

A razão pode e deve alimentar-se do medo. Na verdade, de um medo específico. Não o que impede de pensar e agir, mas o que – simulado, intelectualizado, imaginado – revela o que há de valor, está sob risco e deve ser conservado.

28/10 – A experiência do pensamento (A sociedade à prova da promessa) / Olgária Matos   

A tão incensada adaptabilidade não é, como se pensa, prudência ou virtude, mas disciplinarização, que rompe, sem pesar nem remorso, os laços que unem um homem a um lugar, uma cultura e a outros homens.

1/11 – Fontes Passionais da Violência (O Sono da Razão) / Jorge Coli  
Vênus agrega. Marte fecunda. Daí que, junto ao progresso em meio à harmonia, a história progride por meio da violência. Isso de que a Revolução Francesa é exemplo. E hoje? Como conceber a sistematização da violência ilegítima?              
3/11– A Outra Margem do Ocidente (Nos Limites do Mundo) / David Lapoujade          
Não há fronteiras e limites para o capitalismo – diz-se. Por que, então, sociedades fundadas no controle total? Em outra escala, por que a instituição de mais de 30 mil quilômetros de novas fronteiras internacionais? Isso sem tratar das novas limitações que cada um encontra diariamente em seu trabalho, em seus direitos sociais, em sua liberdade – liberdade tão mais restrita.

4/11 – O futuro não é mais o que era (No futuro, de volta à aldeia?) / Guilherme Wisnik       

Além de redefinir conceitos, as mutações invertem alguns. Daí a cidade do século 21, abundante em tudo, exigir a ressurgência da produção individual voltada não só para a própria subsistência como para a da espécie.

 

 


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