Uma exposição de Mônica Nador nunca é apenas uma exposição. Junto com a mostra de tecidos, painéis e paredes estampados com a técnica do estêncil, que está na Luciana Brito Galeria, em São Paulo, a artista democratiza sua arte ao oferecer oficinas de estêncil aos interessados. Na galeria, as aulas já aconteceram, mas quem se interessar em aprender a recortar figuras no acetato e, com um rolinho de pintura embebido em tinta, estampá-las infinitas vezes em qualquer superfície, renovando ambientes de forma barata e low-tech, pode ir ao JAMAC, o Jardim Miriam Arte Clube, na zona sul paulistana, ONG fundada por Mônica Nador, em 2004.
Ali, entre outras atividades, Mônica promove oficinas voltadas aos moradores do bairro, para onde a própria artista se mudou, com a intenção de construir e gerir um espaço cultural para a comunidade. “Eu vim para a periferia para formar vínculos”, conta Mônica. “Não aguentava mais as separações que ocorrem normalmente no circuito tradicional de arte, onde você faz um trabalho, se envolve, e depois vai embora.”
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Após oito anos morando no Jardim Miriam, e transformando o JAMAC em um “ponto de cultura”, como ela define, ao realizar eventos culturais, filosóficos, mostras de cinema e sobretudo multiplicando a técnica do estêncil na comunidade, Mônica acredita ter conseguido mudar muita coisa por ali. “Os militantes do bairro já entendem que, além de educação e saúde, cultura também é um direito, que serve para as pessoas criarem redes de sociabilidade”, acredita.
Uma de suas frustrações, entretanto, é o fato de até agora não ter conseguido levar ao bairro seu projeto Paredes Pinturas, como o que fez em 2009, no Jardim Santo André, em Santo André (SP). Ali, muros e paredes das casas ganharam vida nova com as pinturas em estêncil de Mônica Nador, muitas feitas pela própria comunidade, em uma criação coletiva. Aliás, uma das principais propostas da artista. “No caso do Jardim Miriam, tentei patrocínio pela Lei Rouanet por três anos, sem sucesso. Não sei onde está o dinheiro, onde está o segredo da captação do dinheiro. Ainda não consegui descobrir”, lamenta. “E tenho de fazer isso para morrer em paz.”
Credenciais para utilizar dinheiro público com o objetivo de democratizar a cultura não faltam à artista, que, além do trabalho do JAMAC e do Jardim Santo André, já ensinou a técnica do estêncil na Bienal de Havana, em Cuba, e, no ano passado, coordenou a criação coletiva de arte com estêncil, com várias oficinas, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, na capital paulista. De todo modo, talvez “em um dia de muito cansaço”, ao responder sobre o legado que pretende deixar à comunidade do Jardim Miriam, ela pausa as palavras, refletindo sobre cada uma delas: “Legado… É difícil… Tem um monte de coisas boas que já aconteceram por aqui… Mas também sinto que a tarefa seja muito maior do que a minha capacidade e isso cansa. É tudo lento, os recursos eu consigo muitas vezes do meu próprio bolso e falta principalmente educação para o povo, o que é desanimador… Mas eu inventei essa coisa de distribuir renda e tenho de segurar essa onda. Em compensação, com meu trabalho já tirei muita gente da depressão.”
Cubo Cor
Mônica Nador, Luciana Brito Galeria
Rua Gomes de Carvalho, 842, Vila Olímpia, São Paulo (SP), 11 3842-0634
Até o dia 10 de março. JAMAC, 11 5626-9720
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