Único brasileiro a presidir a Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), o advogado, político e diplomata Oswaldo Aranha marcou época na geopolítica internacional. Foi ele quem presidiu a assembleia que votou o plano de partilha da Palestina, culminando na criação do Estado de Israel, em 1948.
No ano seguinte, com a atuação de Oswaldo Aranha na memória e o clima de confronto da Guerra Fria no horizonte, o Brasil foi escolhido como primeiro país a ocupar a tribuna. A tradição se mantém até hoje ( Michel Temer fez o discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU nesta terça, 20) porque a cada ano o secretário-geral da ONU pergunta à delegação brasileira se deseja continuar como primeiro orador.
O que poucos sabem é que ao final da sessão que culminou na criação de Israel, Oswaldo Aranha colocou no bolso o row call, a folha onde marcou os votos de cada país – sim, não, abstenção. Só percebeu que ficou com o documento ao procurar a chave do apartamento onde se hospedava, no hotel The Waldorf Towers, em Nova York.
Na sequência, Oswaldo Aranha entregou o documento a um assessor, o diplomata Sergio Corrêa da Costa. Não ocorreu a ele a ideia de devolver o papel à ONU. Quase 20 anos depois, quando servia como embaixador no Canadá, Corrêa da Costa reencontrou o row call durante uma arrumação em seus próprios documentos.
Naquele dia, um dos filhos de Corrêa da Costa brincava no jardim com Johnny, um amigo que morava nas vizinhanças. Ambos tinham em torno de 9 anos. Como Johnny tinha origem judaica, o diplomata resolveu contar a ele a história da sessão da ONU em Nova York e a origem do “atestado de nascimento” de Israel.
O garoto ouviu fascinado, mas se exaltou quando Corrêa da Costa disse que iria doar o documento a Israel. “Don’t be silly, sell it!” (“Não seja bobo, venda!”), reagiu Johnny. Ouvi este caso do próprio diplomata, que ria muito da história, relatada até ao presidente israelense Shimon Peres. Em tempo: Corrêa da Costa, que faleceu em 2005, não atendeu à sugestão de Johnny.
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