Uma criança nascida no Brasil ou em Mianmar em 2015 pode esperar viver 20 anos mais que uma criança nascida há 50 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde. Mesmo essa geração, diz a entidade, vai enfrentar preconceitos e discriminação quando chegar aos 60: é o “idadismo”, termo ainda timidamente usado no Brasil derivado do inglês “ageism”, que indica o fenômeno de preconceitos contra pessoas mais velhas.
O tema aparece no relatório da Organização Mundial de Saúde divulgado esta semana sobre envelhecimento saudável. Para a OMS, o idadismo deve ser combatido para que países passem a pensar com mais seriedade sobre políticas públicas para pessoas mais velhas. O documento também traz o resultado de uma pesquisa mundial sobre a experiência de envelhecer.
Mais de 83.000 pessoas em 57 países participaram do estudo. E um dos resultados alarmantes foi que 60% dos participantes consideram que pessoas mais velhas são desrespeitadas. O índice mais baixo de respeito foi reportado em países com rendas mais altas.
No documento, a OMS encara o problema do idadismo como uma questão de saúde pública. E são vários os motivos. Um deles é que a percepção negativa sobre a população idosa exerce impacto em políticas públicas. Pode, por exemplo, inibir políticos de fazerem ações voltadas para essa população já que a opinião pública acredita ser ela um “peso” ou uma questão “menos importante”.
Ainda, o idadismo abala a saúde de pessoas mais velhas. Aqueles que têm percepção negativa do envelhecimento demoram para se recuperar de enfermidades, diz a OMS. Eles também vivem em média 7.5 anos a menos que aqueles que têm atitudes mais positivas.
Uma outra questão é que a maioria dos problemas de saúde enfrentados por pessoas mais velhas é associado a condições crônicas, principalmente doenças não transmissíveis. Essas doenças poderiam ser prevenidas ou retardadas se a sociedade fizesse um esforço coordenado para a promoção do envelhecimento saudável – e isso depende de uma visão mais positiva sobre ele, diz a OMS.
Não há um velho “típico”. Pessoas são diferentes umas das outras
Um outro aspecto do idadismo que consta no relatório da OMS é o estereótipo sobre “uma pessoa tipicamente velha”. A entidade combate essa ideia. Há muita diversidade entre as pessoas que estão envelhecendo e isso vai depender de como viveram a vida e dos recursos disponíveis ao seu redor. “Por exemplo, alguns adultos maiores de 80 anos apresentam níveis de capacidade física e mental comparáveis aos níveis de muitos jovens de 20 anos”, diz o texto.
Embora haja grande diversidade, a sociedade geralmente vê as pessoas mais velhas de forma estereotipada – o que também caracteriza o idadismo. Como na discriminação por gênero ou raça, a idade acaba sendo por si só uma definição da incapacidade, independente das capacidades intrínsecas de cada um.
“Um outro estereótipo de discriminação etária generalizado de pessoas mais velhas é de que são dependentes ou um fardo. Isso pode levar a uma suposição de que os gastos com o envelhecimento são um dreno na economia”, diz o texto.
Mito: não está claro se a população idosa gera custos altos
Outra suposição comumente feita é de que as crescentes necessidades de populações mais velhas levarão a aumentos insustentáveis nos custos de saúde. Esse cenário não está muito claro, diz a OMS.
O texto dá como exemplo um dado dos Estados Unidos. Entre 1940 e 1990, período em que houve envelhecimento significativo no país, houve um incremento de cerca 2% dos gastos com saúde, enquanto as mudanças relacionadas à tecnologia foram responsáveis por até 65% do crescimento dos gastos.
Ainda, o período de vida associado com os maiores gastos de saúde está relacionado a apenas os últimos dois anos de vida, e, mesmo assim, isso varia entre países.
“70 é o novo 60”?
Embora haja uma forte evidência de que pessoas estão vivendo mais tempo, principalmente em países de alta renda, a qualidade desses anos extras também não está clara, diz o texto da Organização Mundial de Saúde. Ainda, a frase “70 é o novo 60”, além de não ser exatamente verdadeira, tem um gosto amargo, afirma a entidade.
“A percepção de que as pessoas são mais “saudáveis” do que elas realmente são pode levar a uma conclusão de não há necessidade de políticas públicas para ajudá-los”, conclui o relatório.
Deixe um comentário