Alguns meses após sua morte, em junho deste ano, Tunga (1952-2016) ganha uma grande mostra na Galeria Millan, em São Paulo, entre os dias 13 de outubro e 12 de novembro. A exposição, intitulada Pálpebras – mesmo nome de uma individual realizada por ele em 1979 –, ocupará os dois espaços da galeria paulistana (ambos na mesma rua, separados por poucas casas),apresentando um conjunto de trabalhos inéditos ou pouco vistos no País.
No primeiro andar da galeria, serão exibidos os Phanógrafos, peças derivadas de uma série pouco exibida composta por caixas que servem de suporte para colagens de diferentes materiais como garrafas, pedras ou mesmo elementos escatológicos. Já no segundo piso, o público poderá conferir a instalação performática Delivered in Voices, exibida apenas uma vez no estúdio de Tunga. A série de esculturas Morfológicas – que foi capa da edição 35 da ARTE!Brasileiros –, também será apresentada no espaço anexo da instituição. São obras que remetem a partes do corpo, como vulvas, bocas, dedos e seios, e que nunca foram expostas no País.
Nascido em Permambuco, Tunga é filho de Léa de Barros, uma das meninas retratadas na famosa tela As gêmeas de Alberto da Veiga Guignard, e do jornalista e poeta Gerardo Mello Mourão. Conviveu com intelectuais brasileiros e franceses que frequentavam a casa de seus pais no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira na década de 1970, apresentando desenhos e esculturas, como a polêmica série Museu da Masturbação Infantil.
Já na década de 80, produziu trabalhos que dialogavam com o surrealismo e o realismo fantástico, como a famosa performance Xifópagas Capilares e a instalação Ão, em que mostrava um filme feito em uma curva do túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Em 2005, foi um dos primeiros artistas contemporâneos a expor no Louvre, onde apresentou a obra À Luz de Dois Mundos, um esqueleto sem cabeça deitado em uma rede suspensa, equilibrada por caveiras içadas.
Em artigo para 35ª edição da ARTE!Brasileiros, a crítica de arte Leonor Amarante ressalta que “desde cedo Tunga cria estratégias para desestruturar a normalidade do circuito de arte, talvez por influência de Pasolini, Rimbaud, Foucault, Lacan, que ele lia desde sempre (..)Seu imaginário ficcional é paradigma dos insights afetivos na construção de mitologias individuais apoiadas na ciência, arqueologia, zoologia e, sobretudo, literatura”. A obra desse artista múltiplo que foi Tunga pode agora ser conferida na mostra em cartaz na Millan.
Serviço – Pálpebras
De 15/10 a 12/11
Galeria Millan
Rua Fradique Coutinho, 1360 São Paulo, SP
(11)3031 6007
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