Samba esquema século XXI

Foto: Rafaela Netto
Foto: Rafaela Netto

Anônimo para muitos brasileiros, aos 48 anos de idade e mais de três décadas de rodas de samba, o cantor e compositor paulistano Douglas Germano é ponta-de-lança de um time que persegue uma estética de renovação para a música popular do País. No escrete defendido por ele estão craques como Rodrigo Campos, Juçara Marçal, Thiago França, Kiko Dinucci, Ava Rocha e Negro Léo. Municiado de voz, violão, cavaquinho e caixa de fósforo, certeiro como bom centroavante, Germano marca um golaço com Golpe de Vista, seu segundo trabalho autoral.

No resumo divulgado em um blog mantido por ele desde 2007, o compositor, moldado na bateria da escola de samba Nenê da Vila Matilde, assim descreve a nova cria: “Golpe de Vista é se defender com as armas que se tem à mão. É fração de segundo. Depende de posicionamento e visão do lance. As canções começam e terminam, sem estribilhos e repetições. Ver, ler e ouvir novamente fica sob responsabilidade do ouvinte”. Nas palavras de Roberto Didio, sambista que assina o texto de apresentação do álbum, a analogia com o futebol é reincidente e precisa. “Douglas Germano é de chutar de longe, cabecear de olhos abertos. Sabe o que desfaz. Operário-despadrão da música do Brasil, arredio às cópias e condescendências de falsa humildade, não segue o jogo”.

Disponível em CD, o trabalho independente pode também ser baixado gratuitamente no site oficial do músico. Na primeira audição o ouvinte constata que a “responsabilidade” sugerida por Germano tende a ser compromisso encarado com prazer. Em cada novo giro de escuta das 12 composições de Golpe de Vista a força imagética das letras e das harmonias culmina na constatação qualitativa do sucessor de Ori, álbum de estreia lançado em 2011, dois anos depois de, ao lado do amigo Kiko Dinucci, assinar as composições de O Retrato do Artista Quando Pede, sob o codinome Duo Moviola.

O fato de o autor informar no encarte do álbum o ano das 12 composições de Golpe de Vista – escritas em 1995, 1996, 1998, 2005, 2007, 2009, 2010, 2013, 2014 e 2015 – não deixa dúvidas de que Germano é compositor de produção regular. E, mesmo com os 20 anos de distanciamento temporal entre Cansaço (1995) e Zeirô, Zeirô (2015), que narra uma partida de futebol liderada por um camisa 33, chamado Jesus, há unidade de sobra no disco.

Despojado, mas sem abrir mão de refinamento estético, Golpe de Vista conta também com a participação de João Poleto (saxofone e flauta), um coro de canto lírico (Tânia Viana, Dênia Campos, Negravat, Márcia Fernandes, Railidia, Mariana Laura, Diego Murílio e José) e o trombone de Pedro Moreira em Maria da Vila Matilde (…porque se a da Penha é brava, imagina a da Vila Matilde…). Um dos destaques do premiado álbum A Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares, esta última composição rendeu, aliás, a Germano a nomeação ao Grammy Latino de Melhor Canção em Língua Portuguesa. Com ou sem troféu, temos aqui um compositor campeão.


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