Em Porto Alegre, exposição revela as diversas facetas de Simões Lopes Neto

Simões Lopes Neto (deitado) na Estância da Graça. Foto: Fotógrafo desconhecido. c.c. 1897 / Arquivo pessoal de Luiz Simões Lopes / Acervo CPDOC-FGV
Simões Lopes Neto (deitado) na Estância da Graça. Foto: Fotógrafo desconhecido. c.c. 1897 / Arquivo pessoal de Luiz Simões Lopes / Acervo CPDOC-FGV

Considerado a maior expressão do regionalismo literário no sul do País e admirado por escritores como Érico Veríssimo, Guimarães Rosa e Mario de Andrade, João Simões Lopes Neto ganha uma exposição à altura de seu talento. Atraente e informativa, Simões Lopes Neto – Onde não Chega o Olhar Prossegue o Pensamento traz manuscritos, fotos e desenhos do autor de Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

Gaúcho de Pelotas, Simões Lopes Neto (1865-1916) teve uma vida bastante atribulada, como bem mostra a divertida documentação exibida no Santander Cultural de Porto Alegre. Exímio artífice de contos e peças de teatro, foi, porém, um empresário dos mais atrapalhados, a julgar pelos insucessos de suas empreitadas. Criou a marca “Diabo” de cigarros, teve uma fábrica de vidros, uma destilaria, tentou a sorte como mineiro de prata em Santa Catarina, montou uma firma para moer café, criou um remédio para sarna e carrapato, e conseguiu afundar um cartório.

Era, provavelmente, um personagem tão memorável quanto os que criou; e o fez  com tal estilo e força psicológica que sua obra transcendeu o rótulo de regionalista. É o que afirma, em outras palavras, o romancista e contista gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011) na apresentação de suas Obras Completas: “Ele é regionalista e este rótulo funciona quase como um estigma, sobretudo num País cada vez mais globalizado. Lamentável, contudo. Estamos diante de um grande escritor, alguém cujos contos podem, sem favor, ser comparados aos de Tchekhov ou Machado de Assis”.

Já o grande crítico Augusto Meyer (1902-1970), também do Rio Grande do Sul, afirma, no prefácio da edição de 1961 de Contos Gauchescos e Lendas do Sul: “Na sua identificação com as fontes da tradição oral descobrimos o sêlo da unidade psicológica, um comportamento necessário e inevitável. Simões Lopes Neto foi, por ensejo e instinto, o intérprete das tendências e tradições do nosso homem do campo. Seu intuito era contribuir para a fixação do populário gaúcho. Por fatalidade temperamental, o medíocre folclorista acabou em poeta e o momento culminante do nosso regionalismo…”

Por tudo isso, a exposição montada no centenário da morte de Simões Lopes Neto, que permanece em cartaz até 18 de dezembro, vale muito – especialmente se resultar num reconhecimento mais amplo de sua obra.

MAIS
– Veja abaixo galeria de imagens reunidas na exposição
– Acesse a página oficial do Santander Cultural Porto Alegre e confira a programação  

 


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.