Até hoje Krajcberg não sabe se é arte o que faz. Diz que só quer fazer seu manifesto contra a devastação da natureza, mostrando os restos calcinados das queimadas. Para isso, esse polonês de nascimento corre matas e florestas do Brasil, onde se radicou depois da guerra, colhe as sobras da destruição e cria as obras que o mundo todo conhece. 31 delas estão em exposição no Museu Afro Brasil na mostra Krajcberg, o Homem e a Natureza no Ano Internacional das Florestas. Realizada a convite do galerista Sérgio Caribé, a mostra comemora os 90 anos do artista e presta uma homenagem à data decretada pela ONU. São trabalhos em diversos suportes, como suas famosas esculturas, relevos e fotos – algumas delas ainda inéditas.
No início do ano, ele apresentou no Museu Afro Brasil uma seleção de fotos das muitas que registra pelo País, em particular na Amazônia e no estado de Mato Grosso. Ele acredita que suas esculturas não conseguem mais expressar sua indignação com a devastação da natureza. As fotos, em sua opinião, seriam mais impactantes e, por isso, incisivas. Para ele, no ritmo em que a especulação segue, a Amazônia está prestes a desaparecer.
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A carreira artística de Krajcberg começou nos anos 1950, época em que ele chegou ao Brasil sozinho, sem a família, que perdeu para o Holocausto. Pintava influenciado pelo cubismo, até encontrar nas florestas o tema e o material de suas esculturas. Datam de 1964 as primeiras peças feitas com troncos de árvores mortas, que encontrou nas primeiras de suas muitas incursões à Amazônia e ao Pantanal, documentando o desmatamento. Mais do que um artista, esse engenheiro por formação, que depois estudou arte, inclusive com Marc Chagall, considera-se um ativista incansável. Radicado em Nova Viçosa, no sul da Bahia, desde os anos 1970, Krajcberg vive em uma casa construída em cima de uma árvore, de onde vê apenas as copas frondosas das espécies nativas que cobrem as terras de seu Sítio Natura. Ali, ele guarda os restos de galhos e troncos calcinados, que articula em torções selvagens, para criar seus gritos ecológicos. No início do ano, desorientado diante dos sucessivos assaltos que sofreu, chegou a cogitar voltar para a Europa. Acha, contudo, que sua vida, sua luta e sua arte são aqui, onde recolhe as sobras de aroeiras, cedros, ipês e jacarandás para continuar seu manifesto contra a devastação.
Defensor ferrenho da natureza, nos anos 1980, Krajcberg, junto com o crítico de arte francês Pierre Restany e o artista Sepp Baranek, criou o Manifesto do Rio Negro, que – depois de uma viagem de meses pelo rio amazonense – gerou filmes, debates e livros, e correu o mundo.
Em 2011, Ano Mundial da Árvore, Krajcberg ainda encontrou tempo para se dedicar à mostra Grito!, exibida em Salvador, BA, com o objetivo de transformá-la em manifesto pacífico pela saúde do planeta. O artista diz que neste Ano da Árvore, “toda a Europa vai se manifestar, e a Bahia e o Brasil já estão engajados”.
A mostra paulistana no Museu Afro Brasileiro nos dá a dimensão da obra de Krajcberg, não só pelo ponto de vista estético, mas por sua crítica político-ecológica constante. Toda sua obra tem a parceria da natureza, que o ajuda a recriar uma paisagem própria, nas quais ele refaz, em peças dimensionadas, as formas dos cipós, troncos de árvores e raízes destruídas pelas mais diversas formas – desde o fogo acidental até o capricho dos homens.
Em um de seu apelos na Bahia, ele foi enfático: “Vamos nos adaptar para não machucar mais este planeta. O Japão, com a catástrofe do tsunami, nos mostrou a fragilidade em que vivemos. Aqui no Brasil, em escala menor, nunca se viu tanta cidade embaixo d’água. Vamos mobilizar a população para continuarmos vivendo neste planeta.” Krajcberg diz, ainda, que o mundo está muito preocupado e que falar da preservação da floresta é fundamental: “Precisamos agir porque o oxigênio é fundamental para sobrevivermos neste planeta”, conclui ele.
Museu Afro Brasil
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n
Parque do Ibirapuera – portão 10
Até 6 de novembro
De terça a domingo, das 10 às 17h
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