Ebola “sem sintoma” mostra que doença deve ser melhor compreendida

Em janeiro de 2016, a Organização Mundial da Saúde declarou fim da epidemia de ebola. Antes disso, desde 2013, a África Ocidental vivia a maior e mais longa epidemia da doença registrada – com 28.000 infectados e 11.000 mortes. Esse número, no entanto, registra somente pessoas com sintomas evidentes da infecção, afirma artigo publicado esta semana na PLOS, que também traz um dado interessante sobre a doença:

Pesquisadores descobriram indivíduos em Serra Leoa que expressaram anticorpos para o vírus, mas não mostraram sinais aparentes da doença. O fato não só mostra que o número de infectados pode ser maior, como aponta que o ebola precisa ser melhor compreendido.

Estima-se que de 10 a 80% das pessoas que apresentam sintomas morrem, dependendo do acesso ao hospital. No entanto, os pesquisadores também têm visto algumas evidências de que uma minoria pode pegar o vírus sem desenvolver quaisquer sintomas.

Durante a epidemia de 2013-2016, na urgência do controle da doença, esses casos eram tidos como “infecções minimamente sintomáticas” e não foram consideradas epidemiologicamente relevantes para modelos, projeções ou esforços de intervenção.

Clínica de tratamento contra o Ebola em Monróvia, capital da Libéria (África Ocidental). Foto: Morgana Wingard/USAID (22/09/2014)
Clínica de tratamento contra o ebola em Monróvia, capital da Libéria (África Ocidental). Foto: Morgana Wingard/USAID (22/09/2014)

Presença de anticorpos contra o ebola

De outubro de 2015 até janeiro de 2016, o cientista Eugene Richardson, da Partners In Health, e parceiros realizaram um levantamento de pessoas em uma vila de 900 habitantes de Serra Leoa, que tinha sido um importante polo de transmissão de ebola. A equipe identificou 193 adultos e crianças com mais de 4 anos que tinham vivido com um caso confirmado de ebola durante o período de transmissão ativa.

Os pesquisadores coletaram sangue de 187 desses indivíduos e testaram as amostras para anticorpos de ebola, cuja presença indica uma infecção.

Dos 187 indivíduos expostos, nenhum dos quais manifestou visivelmente a doença, pesquisadores identificaram 14 que testaram positivo para anticorpos do vírus ebola. Dois destes 14 admitiram ter tido febre durante quarentena, enquanto o restante negou ter tido quaisquer sinais ou sintomas.

“Os achados fornecem mais evidências de que ebola, como muitas outras infecções virais, apresenta um espectro de manifestações clínicas, incluindo a infecção minimamente sintomática”, escrevem os pesquisadores.

“Esses dados também sugerem que uma parcela significativa dos eventos de transmissão de ebola pode não ter sido detectada durante o surto.”

Os dados apresentados pela pesquisa mostram que a epidemia do ebola precisa ser melhor estudada, já que a prevenção de novos surtos depende dessa compreensão. Ainda, vale investigar o porquê esses indivíduos infectados não desenvolveram a doença. Outro ponto é que esses portadores também podem se tornar beneficiários de serviços médicos e sociais voltados para sobreviventes da epidemia.

Partículas aumentadas do vírus Ebola. Entre 2013 e 2016, epidemia levou 11.000 vidas.  Foto: NIAD/ Creative Commons
Partículas aumentadas do vírus ebola. Entre 2013 e 2016, epidemia levou 11.000 vidas. Foto: NIAD/ Creative Commons


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