Bom humor e elegância

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Foto: Reprodução / EBC
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad. Foto: Reprodução / EBC

Existe razoável distância entre um político e um estadista.

Este último é aquele que exerce liderança e faz isso com sabedoria, sem limitações partidárias. Sabedoria é sensatez, é reflexão, é temperança.

Bom humor também ajuda.

Um estadista, portanto, é o que todo político deveria ser. Mas isso, claro, é utópico, é onírico.

Assim como onírico e utópico é achar que todo sacerdote deveria ser um Francisco; todo cientista um Einstein; todo médico um Oswaldo Cruz; todo jornalista um Cláudio Abramo.

Enfim, há os padres pedófilos de Boston, os cientistas e os médicos do Terceiro Reich. E os jornalistas…Bem, há bons e maus jornalistas e há os piores que os maus, que são os maus que se acham bons.

Assim como os empresários, há os bons, há os maus e há os péssimos

Mas, como em toda atividade, os excelentes são raros.

Saudável seria – e isto não é impossível – não economizar energia em busca da excelência. E, mesmo que ela não seja alcançada, mesmo que ela permaneça utópica, a dedicação e o esforço dispendidos fazem diferença. E isso vale para todos, para um garçom, um motorista, um engenheiro, um jardineiro, um arquiteto.

Seria, portanto, lógico, saudável, que todo político se esforçasse para ser um estadista.

Nas recentes eleições americanas foi eleito alguém que se diz não político. Disse isso como se fosse grande vantagem. E com tudo o que ele mostrou na campanha, com suas declarações de xenofobia e de preconceito, o que deixou claro é que ele, como diz, não é político e, além disso, está a milhas de ser um estadista. Para completar o quadro, antes de vencer as eleições, quando as pesquisas lhe eram bastante desfavoráveis, disse, com nenhuma sensatez, que, se perdesse, não aceitaria a derrota.

Isto também aconteceu no Brasil, País que tem bons e maus políticos, onde quem perdeu as últimas eleições presidenciais, aquelas de 2014, não aceitou a derrota. Há que se lembrar – logo após o resultado das urnas – de uma frase que veio do ninho dos derrotados, contra os que venceram e depois, sob um golpe parlamentar, perderam: “Quero ver este governo sangrar”.

Nos dois casos a explícita falta de sensatez não só despertou como acirrou perigosamente os ódios, revelou burrices constrangedoras e trouxe tempos sombrios e de muita preocupação.

Por outro lado, voltando às eleições americanas, o presidente que deixa o cargo agora em 20 de janeiro e cujo partido saiu derrotado é, sim, um estadista.

Assim como, também aqui no Brasil, o prefeito de São Paulo, que deixa o cargo no dia 1º de janeiro, derrotado em suas pretensões de reeleição, também é, sim, um estadista.

Ambos demonstraram sensatez, reflexão, temperança. Após as derrotas, suas frases, aqui ao lado reproduzidas, são dignas de estadistas.

Sei que isso não desanuvia o futuro sombrio, mas um balanço de suas carreiras, com seus erros e acertos, revela dois estadistas. Dois inteligentes e bem-humorados estadistas.

Tive a oportunidade de conversar com o presidente eleito Trump na noite passada – acho que eram umas 3h30 da madrugada – e congratulá-lo por ter vencido a eleição. Eu o convidei para vir aqui à Casa Branca, amanhã, para tratar de que haja uma transição bem-sucedida… Uma coisa que você percebe rapidamente neste trabalho é que a presidência e a vice-presidência são maiores do que nós. Portanto, instruí minha equipe para seguir o exemplo que a equipe do presidente Bush deu oito anos atrás para que trabalhemos duro para garantir uma transição bem- sucedida para o presidente eleito.
Barack Obama, Washington D.C., 9.11.2016.

Parabenizo o prefeito eleito João Doria Jr. pelo resultado e, conforme falamos por telefone, coloco minha equipe –
a começar por mim – à inteira disposição para fazermos uma transição tranquila. Em um País onde a gente
vê as instituições republicanas fragilizadas, eu penso que nós temos que dar o exemplo e fortalecê-las; e uma das instituições que eu mais prezo são as transições de governo, porque isso revela espírito público, respeito à democracia, respeito ao resultado das urnas, à vontade popular.”
Fernando Haddad, São Paulo, 3.10.2016 


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.